Bernardo Bertolucci, realizador responsável por filmes como “O Último Imperador” e “O Último Tango em Paris”, morreu hoje, em Roma, aos 77 anos, informaram os meios italianos de comunicação social.
"Bernardo Bertolucci era um imenso artista que encarnou o cinema italiano, convertendo-se numa figura maior da sua identidade. Tinha com Cannes um vínculo inquebrável", declarou o presidente do festival, Pierre Lescure, e o seu diretor artístico, Thierry Frémaux, na conta oficial do certame, na rede social Twitter.
O festival, que teve Bertolucci por presidente do júri em 1990, e a quem entregou a Palma de Ouro de Honra, pelo seu percurso em 2011, despediu-se do realizador recordando os seus principais filmes, como "Antes da Revolução" (1964), "O Conformista" (1970), "Novecento/1900" (1976) e "A Tragédia de Um Homem Ridículo" (1981).
Gilles Jacob, antigo presidente do Festival de Cannes, que entregou a Palma de Ouro ao cineasta em 2011, descreveu-o como "o último imperador do cinema italiano", em declarações ao jornal Le Figaro: "Acabou-se a festa. São necessários dois para dançar um tango".
Para Gilles Jacob, Bertolucci era "um gigante da criação" cinematográfica e "será para sempre um farol no mundo do cinema".
O produtor português Paulo Branco, amigo do cineasta, por seu lado, disse à Lusa que Bertolucci “era um dos grandes criadores, um dos últimos que acompanharam toda a evolução do cinema desde o início dos anos 60, e trouxeram uma nova linguagem”, sem nunca esquecer o público.
Bernardo Bertolucci nasceu em 16 de março de 1941, em Parma, Itália, tendo estudado Literatura Moderna na Universidade de Roma.
Entrou no cinema aos 21 anos, como assistente de realização de Pier Paolo Pasolini. Aos 22 dirigiu a sua primeira longa-metragem, “La Commare Secca”, e, aos 24 anos, “Prima della rivoluzione”/"Antes da Revolução".
Em 1970, “Il Conformista”/"O Conformista", baseado na obra de Alberto Moravia, deu-lhe a primeira nomeação para os Óscares e a primeira distinção em Berlim.
No mesmo ano dirigiu “La Strategia del Ragno”/"A Estratégia da Aranha", a partir do conto homónimo de Jorge Luís Borges.
“O Último Tango em Paris”, filme que causou polémica um pouco por todo o mundo devido às cenas de sexo e à inquietação provocada por Marlon Brando e Maria Schneider, data de 1972. O filme garantiu-lhe a nomeação para o Óscar de Melhor Realizador.
Em 1976, dirigiu o épico “1900”, filme que teve a primeira exibição portuguesa no antigo Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz, que também estreou em Portugal "A Estratégia da Aranha".
Sucedem-se "A Tragédia de Um Homem Ridículo" (1981) e “O Último Imperador” (1987), sucesso mundial distinguido com nove Óscares, entre os quais o de Melhor Filme e Melhor Realizador.
Voltou ao cinema com “Um Chá no Deserto” (1991), sobre Paul Bowles, “O Pequeno Buda” (1993), “Beleza Roubada” (1996) e “Assédio” (1998).
"The Dreamers"/"Os Sonhadores" (2003) e "Io e te"/"Eu e Tu" (2012), estreado em Portugal em outubro de 2013, culminam uma carreira distinguida com 49 prémios, dos Óscares da Academia de Hollywood aos Globos de Ouro da Associação de Imprensa Estrangeira, em Los Angeles, do Festival de Berlim aos festivais de Cannes e Veneza.
Em 2007 recebeu o Leão de Ouro de carreira, do Festival de Veneza.
Em 19 de novembro de 2013, o Passeio da Fama de Hollywood ganhou uma estrela com o seu nome.
Terça-feira, o edifício principal da Câmara de Roma vai acolher o corpo do cineasta para uma última homenagem, das 10:00 às 19:00 locais (09:00-18:00 de Lisboa), anunciou hoje a família do realizador, em comunicado. O funeral realizar-se-á em data e local a anunciar.
Bertolucci foi homenageado na edição de 2008 do Lisbon & Estoril Film Festival (LEFFEST), dirigido por Paulo Branco, que, no ano passado, já como Lisbon & Sintra Film Festival, exibiu de novo "1900" e "A Tragédia de Um Homem Ridículo".
No domingo, no fecho da edição deste ano do LEFFEST, foi projetado "O Conformista", "um incisivo retrato" de um homem atraído pelo fascismo.
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