A sessão no Juízo Central Criminal de Lisboa começa às 09:30 com a reprodução da gravação do depoimento do comandante António Ricciardi, com cerca de uma hora e meia de duração, naquela que é a primeira testemunha a ser ouvida em julgamento. O antigo presidente do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES) e líder de uma das cinco famílias que dominavam essa entidade morreu em janeiro de 2022.
Inquirido como testemunha pelo Ministério Público (MP) no dia 02 de outubro de 2015, António Ricciardi explicou que pensou deixar em 2008 a presidência do conselho de administração do BES, com 89 anos, mas que, face aos pedidos da família, aceitou continuar na administração de diversas sociedades do grupo, nomeadamente a Espírito Santo Control (ESC), Espírito Santo International (ESI) e Espírito Santo Financial Group (ESFG).
No entanto, segundo a acusação, o antigo ‘chairman’ do BES limitava-se a assinar os documentos que lhe apresentavam e que não acompanhou mais a atividade da ESI, a holding do GES para a área financeira e não financeira cujas contas foram manipuladas, ao encontrar-se em situação de insolvência desde 2009.
“Referiu que acreditava que os assuntos eram decididos por Ricardo Salgado”, lê-se no despacho do MP, que acrescenta sobre o depoimento do comandante: “Mais referiu que as emissões não eram aprovadas em reuniões do Conselho de Administração da ESI, sendo que, também as atas eram remetidas por Ricardo Salgado e a testemunha, simplesmente, assinava”.
Depois, previsivelmente da parte da tarde, será a vez de ser ouvido em tribunal o filho do antigo presidente do GES, José Maria Ricciardi.
O ex-presidente do BESI e primo de Ricardo Salgado, com quem entrou em conflito aberto em 2013, não escondeu as críticas ao antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES) pela responsabilidade no colapso do grupo e já prestou depoimento em vários processos com ligação ao BES ou a Salgado.
O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.
Entre os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.
Além de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos, nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.
Segundo o MP, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
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