"O que está a acontecer é desumano. Não se pode cortar um bem que é essencial para viver. Tratar pessoas como criminosas por serem pobres é inaceitável. Nenhuma destas pessoas recusa pagar e estão a propor planos de pagamento à medida das suas possibilidades", disse o deputado bloquista José Soeiro.
Em causa o corte feito pela empresa Águas do Porto a cerca de 40 famílias do bairro de Aldoar, um número transmitido aos jornalistas pela Associação de Moradores do Bairro de Aldoar mas que o eleito pelo BE na União de Freguesias de Aldoar, Foz e Nevogilde, Pedro Lourenço, acredita que "tenha maior extensão por toda a cidade".
José Soeiro avançou que o BE vai pedir uma reunião de urgência às Águas do Porto para esclarecer esta situação e exigir que "não se corte a águas às pessoas, sem se verificar porque é que estas não pagam".
"A câmara, como responsável pelas águas, tem de garantir que a ninguém seja negado um bem que é fundamental. Não podemos impor às pessoas que paguem uma percentagem do seu rendimento que as põe a escolher entre ter água ou comida", disse José Soeiro.
Contactada pela agência Lusa, a Câmara do Porto indicou, via ‘email', que terça-feira procedeu "às tarefas de rotina, com operações de suspensão do fornecimento de água no bairro de Aldoar, tendo sido efetuados cortes e regularizações de situações ilícitas".
Segundo a autarquia, "como a Águas do Porto apenas procede à suspensão do abastecimento de água quando existem mais de três faturas em dívida, todos estes clientes já haviam sido avisados da possibilidade do corte em momentos diferentes, tendo sido emitida, em todos eles, notificações de suspensão do fornecimento de água".
Sandra Rocha, que vive com o marido e tem a seu cargo uma neta, contou ter como rendimento 266 euros mensais e uma dívida de "mais de 4.000 euros".
"Queria pagar um bocadinho por mês. Fiz um pedido para pagar 10 euros por mês mas a câmara não deixou. Hoje disseram que me ligavam a água se pagasse 100 euros. Mas como é que tendo menos de 300, posso pagar 100 para ligar, mais renda, luz, comida?", descreveu a moradora.
Já Esmeralda Mateus, presidente da associação de moradores, contou que foi aos serviços camarários "tentar fazer qualquer coisa pelas pessoas que estão sem água" mas, disse, "ninguém conseguiu ajudar".
A dirigente associativa também criticou o "aparato de polícias no bairro", descrevendo que "para cortar ou voltar a ligar a água, os técnicos aparecem escoltados".
"E aqui não há só má gente. Há muito boa gente. E acamados, dois, aos quais cortaram a água sem irem saber se podiam sair da cama para ir pagar", referiu Esmeralda Mateus.
Na resposta à Lusa a Câmara do Porto apontou que "foram já registados diversos pedidos de religação, mediante regularização da situação, procedendo-se assim a um normal restabelecimento do serviço".
"Nestes casos, percebendo a importância do serviço de abastecimento de água, a Águas do Porto concede condições de pagamento faseadas em planos de pagamento em prestações, com o objetivo de facilitar estas religações e evitar futuras situações de incumprimento no pagamento da fatura mensal", lê-se na resposta.
Esta tarde, o BE defendeu que "o acesso à água não pode entrar em conflito com outras coisas, como o acesso à alimentação ou habitação", tendo Soeiro recordado que a autarquia pode ter uma tarifa social para a água automática, como acontece a nível nacional com a tarifa da energia.
De acordo com a Câmara do Porto a empresa de águas portuense tem um universo de mais de 154.000 clientes, sendo que 98% têm a situação regularizada, existindo 2% de clientes com situações de incumprimento no pagamento da fatura da água.
"A Águas do Porto procede diariamente a cerca de 80 a 100 cortes de fornecimento de água por dia, com vista a sanar situações de dívida, ou de ilicitude na ligação", descreve a autarquia.
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