“Sempre que nos dizem que não há dinheiro para contratar mais profissionais, nós depois vemos como é preciso garantir os serviços de Saúde e é, no fim do ano, [com] utentes que acabam por ser encaminhados para o privado e o Estado paga. 40% do orçamento da Saúde está a ser canalizado para o setor privado”, alertou Catarina Martins.
A coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu que “não se podem contratar os profissionais que faltam, enfermeiros, técnicos superiores de diagnóstico, auxiliares, médicos […] porque não há orçamento quando aumentaram 52% as cirurgias feitas no setor privado, só em 2017″.
“É sempre de escolhas, é sempre de escolhas que falamos”, apontou Catarina Martins que, em resposta às críticas da direita sobre as 35 horas de trabalho no setor da Saúde, questionou se “antes das 35 horas estava tudo bem”.
“Quando a direita decidiu obrigar os profissionais da Saúde, como outros, a trabalharem mais cinco horas sem lhes pagar, estava tudo bem? Ou o que nós vimos não foi a emigração massiva de enfermeiros para o estrangeiro ou para o setor privado da saúde?”, interrogou.
Também noutros setores, como na banca, por exemplo, a questão fundamental “são as escolhas, como as escolhas do investimento que não é feito no interior do país”, acusou Catarina Martins em Viseu.
“Quando alguém nos diz que o problema é fazer as contas, e a direita tem dito tantas vezes que não fizeram bem as contas, não fizeram bem as contas sobre os professores, sobre os médicos, e será que eles fizeram as contas sobre o sistema financeiro que em 10 anos 20.000 milhões de euros foram entregues à banca?”, anotou.
Catarina Martins desafiou a fazer as contas e lembrou o investimento que “este Governo fez no Banif”, afirmando que “foi a direita que preparou o descalabro, mas o Governo fez porque quis e não fez com os votos do Bloco”.
Referiu também o investimento feito no Novo Banco “pela direita, mas que este Governo não mudou”.
“Com estas decisões já foram 9.000 milhões de euros nesta legislatura para os privados e estão comprometidos nos próximos 20 anos mais 10.000 milhões de euros. Vamos falar de contas? Vamos falar das contas do dinheiro que falta para respeitar as carreiras dos professores ou para contratar os profissionais necessários que faltam para o serviço nacional de saúde”, continuou a bloquista.
No entender da coordenadora do BE, “estas são as contas que interessam fazer” e, a este propósito, reagiu à notícia sobre as compensações atribuídas à Parvalorem, empresa do Estado que gere cerca de 3.000 milhões de euros de ativos do antigo BPN.
“Esta Parvalorem, que mantém uma parte da administração que veio de Oliveira e Costa, e que tem a presidir Francisco Nogueira Leite, homem que foi companheiro de Pedro Passos Coelho e de Miguel Relvas, nomeado no anterior governo mas que este governo deixou continuar, decidiu agora distribuir meio milhão de euros em bónus a estes administradores que vieram de Oliveira e Costa”, afirmou.
Neste sentido, Catarina Martins disse que “se é para fazer contas” que se façam “as contas todas” até porque, no seu entender, “o problema está nas escolhas”.
“Um governo que já gastou 9.000 milhões de euros com o sistema financeiro e diz que é muito caro descongelar a carreira dos professores não tem um problema com os professores, tem um problema com o sistema financeiro”, acusou.
Da mesma forma que “um governo que não retira a administração da Parvalorem que distribui estes bónus não tem um problema para fazer o IP3, tem um problema com o sistema financeiro”.
Catarina Martins lembrou que o Bloco de Esquerda não está presente “para negociar orçamentos que não respeitem as pessoas” e avisou que o partido “não aceita que falem de umas contas e se esqueçam sempre das contas do sistema financeiro”.
Catarina Martins fala num almoço em Viseu, no decorrer de uma visita ao programa “Sementeiras”, um projeto da comissão distrital do partido e que, no entender da coordenadora nacional, “é seguramente a iniciativa mais interessante no país do Bloco de Esquerda a nível cultural”.
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