A UE e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) fecharam no final do mês passado um Acordo de Associação Estratégica para criar uma das maiores áreas de comércio livre do mundo, sem precedentes na relação entre a Europa e a América Latina.
Será a primeira vez que o Governo do líder da extrema-direita brasileira ocupa a presidência rotativa do bloco, uma posição que receberá do governante argentino, Mauricio Macri, na cimeira que o Mercosul realiza, na próxima semana, em Santa Fé.
Durante os próximos seis meses, o Mercosul vai dedicar-se à revisão do acordo comercial com a UE que dará acesso a um mercado de quase 800 milhões de pessoas.
Depois desse procedimento burocrático, o acordo deve ser traduzido nos 30 idiomas oficiais dos países envolvidos e será submetido aos parlamentos de cada um deles para as respetivas ratificações.
Embora se preveja que o processo dure, pelo menos, três anos, os países do Mercosul consideram que o acordo com a UE é um sinal de que o bloco recuperou a sua capacidade de negociação e está em condições de expandir a sua presença no mundo.
Macri já anunciou a intenção de negociar, juntamente com o Brasil, um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, uma iniciativa que poderá ser alargada aos demais parceiros do Mercosul.
Macri e Bolsonaro têm uma relação próxima com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o que, segundo disseram fontes brasileiras à agência poderia facilitar um acordo, que teria, apesar de tudo, "longas negociações".
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, adiantou que o Mercosul pretende usar o acordo com a UE como uma espécie de cartão-de-visita para outras negociações.
Segundo Araújo, um dos objetivos da presidência semestral do Brasil será tentar concluir pelo menos duas das negociações que o bloco sul-americano tem em curso.
Embora não tenha especificado quais estão mais avançadas, adiantou que poderão ser concluídas as negociações com os países europeus que integram a EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), com o Canadá, Singapura e Coreia do Sul.
O horizonte pode ensombrar-se, no entanto, com “algumas nuvens”, tanto em relação ao futuro do acordo com a UE, como na frente doméstica do Mercosul.
Na Europa, a França sugeriu que a ratificação do acordo poderia enfrentar problemas no seu Parlamento, onde alguns setores contestam as políticas agressivas de Bolsonaro na Amazónia.
Internamente, as eleições argentinas do próximo outubro não garantem a continuidade de Macri.
As sondagens mostram um eleitorado polarizado entre Macri e o peronista Alberto Fernandez, que apresenta como candidata a vice-Presidente a ex-Presidente Cristina Fernandez e expressou dúvidas quanto ao acordo com a UE, admitindo revê-lo se chegar ao poder.
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