“Na Madeira não há meios aéreos, porque o anterior Governo Regional entendia que não eram necessários meios aéreos ou porque havia situações climatéricas que não permitiam que os helicópteros médios ou pesados ou mesmo os ‘Canadair’ pudessem atuar. A ANBP contrariou sempre essa tese, mas, como é lógico, limitamo-nos a contrariar”, afirmou Fernando Curto.
Pelo seu lado, o presidente do Governo Regional da Madeira desvalorizou na terça-feira as críticas relacionadas com o recurso a meios aéreos no combate a incêndios de grandes dimensões no arquipélago, considerando que os estudos divergem sobre a sua utilização.
O dirigente da ANBP realçou que, à semelhança de outros no passado, o incêndio florestal que deflagrou na Madeira na segunda-feira e que se alastrou a áreas urbanas teve início numa zona de difícil acesso, onde os bombeiros não podem chegar, nem com meios humanos, nem com meios materiais, pelo que era “mais fácil e proveitoso” que os meios aéreos atuassem logo.
“A argumentação que na altura se colocava era que a situação geográfica e as situações dos ventos na Região Autónoma da Madeira não permitiam que esses meios atuassem. Não é verdade, porque quando há esse problema os aviões também não aterram na Madeira. Na altura provámos e justificámos até ao próprio Governo que era um erro não se usarem os meios aéreos, mas pronto, era uma opção política e o Governo nunca optou por ter meios aéreos na Região Autónoma da Madeira”, explicou.
“A questão que se coloca aqui é se o Governo quer ou não investir nisso”, sublinhou.
Fernando Curto destacou ainda que este parecer da ANBP era baseado em opiniões manifestadas por técnicos e especialistas em aeronaves.
Com base nestas opiniões, a ANBP sugeriu que na região estivesse disponível um helicóptero médio polivalente, preparado para uma primeira intervenção rápida no combate a incêndios, mas que também pudesse intervir em caso de problemas de saúde ou outras situações de emergência.
Confrontado na terça-feira com a ausência de meios aéreos na ilha, o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, desvalorizou a questão.
“Eu confesso a minha ignorância. Eu já estudei dois dossiês sobre o assunto”, disse Miguel Albuquerque aos jornalistas, declarando ser “um político”, pelo que não se considera “tecnicamente habilitado” para opinar sobre este assunto.
Contudo, acrescentou que, dos dois relatórios que leu, um apontava que a atuação dos meios aéreos seria “muito condicionada, devido à natureza dos ventos e dos vales” na ilha, enquanto outro “desaconselhava” este recurso, dada a “relação custo/benefício ser completamente desproporcionada”.
Também confrontado hoje com esta questão, o presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, disse não ser técnico: “Se me perguntar se tecnicamente é possível, essa resposta não posso dar”.
“Mas, partindo do pressuposto de que tecnicamente é possível o uso de meios aéreos, claro que sim. Evidentemente que seria uma mais-valia”, acrescentou.
Os incêndios que deflagraram na tarde de segunda-feira da Madeira provocaram três vítimas mortais na zona da Pena (Santa Luzia), no Funchal, dezenas de casas destruídas e avultados prejuízos materiais. Cerca de mil pessoas tiveram de sair das suas casas.
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