Na última terça-feira, o Governo interrompeu as negociações com os sindicatos dos bombeiros sapadores após as manifestações destes, que envolveram lançamentos de petardos.

Qual a notícia?

Após críticas iniciais à interrupção das negociações, a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) e o Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais (SNBP) apelaram hoje ao Governo que retome as negociações e pediram maior união "mais ordeira" aos trabalhadores.

Fernando Curto, presidente da ANBP, veio "pedir ao Governo e ao secretário de Estado que reate as negociações o mais rapidamente com os sindicatos", que "são instituições credíveis e representam os trabalhadores".

Por seu turno, Sérgio Carvalho, líder do SNBP, admitiu que existiram excessos "próprios de uma multidão", mas responsabilizou o executivo pela tensão, porque não está disponível para negociar.

Para Fernando Curto, o “Governo não pode desvalorizar os bombeiros profissionais, neste caso os sapadores, em detrimento das forças de segurança”, que já chegaram a acordo com o Governo para aumentos nos subsídios de risco.

E já houve reação do primeiro-ministro?

Sim. O primeiro-ministro defendeu hoje a propósito da manifestação dos bombeiros profissionais que “o Governo não vai decidir na base de coação”.

“É preciso que todos tenham noção de que o Governo não vai decidir nunca na base de coação, nem vai decidir nunca na base daqueles que pretendem ir muito além das nossas possibilidades e daquilo que nós estamos a oferecer a outras carreiras similares da administração pública”, afirmou Luís Montenegro.

Montenegro avançou aos jornalistas que jamais ultrapassará os limites daquilo que é aceitável nos valores de justiça relativa dentro da administração pública.

“Não há ninguém que me vá demover disto, faça o que fizer na rua, disso podem ter a certeza absoluta”, acrescentou, anotando que o Governo está a “olhar para todos os portugueses, não está a olhar para nenhuma franja em particular”.

O primeiro-ministro apelou à responsabilidade de todos que se querem manifestar, para que o façam dentro dos limites da lei e dos limites do que é socialmente aceitável.

“Creio que a própria imagem dos bombeiros sai penalizada com os excessos que foram cometidos, afirmou.

Luís Montenegro referiu que as negociações com os bombeiros profissionais “estão já numa fase adiantada”, chamando à atenção para “o esforço do Governo para ir não só ao encontro da valorização da carreira, como também ao sentido de igualdade e equidade em toda a administração pública”.

Quem mais reagiu?

Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República considerou que é fundamental resolver o problema do estatuto dos bombeiros sapadores, mas criticou o uso de tochas e petardos e a queima de pneus nas suas manifestações.

"O fundamental é o seguinte, é que, do lado das autoridades, que haja a noção de que o estatuto tem de avançar, do lado dos bombeiros, que há métodos que não os prestigiam, são opostos aos seus interesses e à sua credibilidade, como usar o fogo, queimar pneus, usar petardos e usar tochas numa manifestação de bombeiros", defendeu Marcelo Rebelo de Sousa.

Segundo o chefe de Estado, "há um problema de estatuto" dos bombeiros sapadores, "que resulta de a entidade patronal serem os municípios, quem estabelece o estatuto legal ser o Estado e, portanto, haver aqui uma relação triangular a três".

"É fundamental resolver esse problema, porque já vem de longe, passaram mais de 20 anos, tem que ser resolvido", apelou.

Por outro lado, "quanto à forma de luta" utilizada nas recentes manifestações, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou-se preocupado com a "credibilidade das instituições" mais do que com "o problema da legalidade", referindo que "os bombeiros são, talvez, a atividade vocacional ou profissional mais bem vista" em Portugal.

"Por isso, eu não considero feliz que, sendo uma das razões da segurança criada nas pessoas a do combate ao fogo, nas manifestações utilizem o fogo como instrumento de luta laboral", afirmou, criticando "ter havido pneus ardidos em frente à Assembleia da República" ou "tochas em frente da sede do Governo".

"Como também não me parece feliz usarem petardos, porque o comum do cidadão não pode fazer manifestações usando petardos", acrescentou.