“Esta é a primeira entrega, mais se seguirão, proximamente”, como parte de um pacote de 89 milhões de euros (85 mais um parcela inicial de quatro) para equipamento, referiu.
Veículos de carga todo-o-terreno e equipamentos individuais como fardamento, capacetes, óculos ou cantis, fizeram parte da entrega realizada hoje na base militar da Katembe, margem sul de Maputo, um dos locais da missão de treino militar da UE.
Na base, Borrell assistiu a um exercício militar, ao lado das missões diplomáticas europeias e junto do ministro da Defesa moçambicano, Cristovão Chume, e do chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Joaquim Mangrasse.
As próximas remessas de apoio a Moçambique também terão material para combate nos rios e no mar, acrescentou, frisando que o apoio europeu obedece a uma visão integrada, que inclui o desenvolvimento económico e social para restaurar a paz em Cabo Delgado.
Do ponto de vista militar, “Moçambique é o primeiro país a receber formação em combate e apoio material” em simultâneo, ao abrigo de “um novo instrumento” que é o Mecanismo Europeu de Apoio à Paz – com o objetivo de tornar as forças armadas autossustentáveis, ou seja, que deixem de precisar de apoio externo, notou.
A UE ajuda não só por “generosidade”, mas porque lhe interessa que Moçambique se torne num país que contribua para “a paz e prosperidade” global, disse ainda Borrell, destacando uma frase: “A nossa luta é a vossa luta”.
No discurso solene na base da Katembe, o alto representante europeu ainda citou o primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, sobre a ideia de uma nova sociedade, desenvolvida, porque a ação militar em Cabo Delgado precisa de “andar de mão em mão” com o desenvolvimento económico e social, disse.
Já na capital, Josep Borrell presidiu à transferência do comando da missão de treino do brigadeiro-general Lemos Pires para o comodoro Martins de Brito – na mesma altura em que declarou formalmente que a missão está em “plena capacidade operacional”.
Questionado sobre o que há de diferente nesta missão para ter mais sucesso do que, por exemplo, a presença no Mali – ou que diferença fará a liderança portuguesa, quando Portugal já forma tropas moçambicanas há décadas – Borrell destacou os recursos e a união de vários países.
A diferença em relação a outros cenários reside “na boa cooperação que há com o Governo moçambicano”.
Por outro lado, além de Portugal, há outros 11 países na missão e há mais recursos: “trabalhando juntos, somos mais fortes”, referiu, sobre a colaboração entre europeus.
Para a UE, depois do Mali, República Centro-Africana e Somália, esta é a quarta missão do género.
A missão de dois anos apoia o treino de 1.100 militares de 11 unidades de reação rápida das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (comandos preparados no Chimoio e fuzileiros na Katembe, além de controladores aerotáticos) e é levada a cabo por 119 membros de 12 países da UE.
Portugal assume o comando da missão e é o país com o maior contingente, atualmente de 68 militares dos três ramos das forças armadas e GNR.
Os custos comuns para a EUTM Moçambique, cobertos pelo Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, estão avaliados em 15 milhões de euros para o período de dois anos.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas, mais perto de Pemba, capital provincial, e na província vizinha de Nampula.
Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
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