Um dos três autocarros da comitiva, que transportava jornalistas, foi atingido por dois tiros e o outro, que levava convidados, foi alvo de um disparo. Lula e Hoffmann viajavam num carro, que não foi alvejado no ataque.

"Foi justamente o autocarro em que estava a imprensa que acompanha a caravana" e "outro autocarro dos convidados" os atingidos, informou Hoffmann por telefone à AFP.

O autor dos disparos teve "a intenção de ferir, de matar quem estava dentro do autocarro", afirmou. "Estamos a avaliar se isso foi uma tentativa de atingir o presidente Lula. A caravana é de Lula. Houve uma tentativa de homicídio", acrescentou.

O ataque aconteceu entre as cidades de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras, no estado do Paraná.

No Twitter, a hashtag #LulapeloBrasil mostrava um autocarro com marcas de tiros.

"A nossa caravana está a ser perseguida por grupos fascistas. Já atiraram ovos, pedras. Hoje deram até um tiro no autocarro", relatou Lula na sua conta no Twitter.

"Ninguém foi ferido", acrescentou, num outro tweet, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). "Esperamos que o governo do estado [do Paraná] e o governo federal, seja golpista ou não, assuma a responsabilidade", acrescentou.

Lula encerra esta quarta-feira, 28 de março, em Curitiba, a campanha de dez dias pelos estados do sul, durante a qual a sua comitiva foi constantemente hostilizada por adversários políticos.

A presença da Polícia foi intensificada em Curitiba, aonde também irão marcar presença grupos de direita e seguidores do deputado Jair Bolsonaro (PSL).

"Espero que tenhamos segurança, que a polícia nacional e estadual, a Inteligência [serviços secretos] possam cumprir o seu papel para que, assim, a gente possa fazer uma manifestação pacífica e democrática como sempre tivemos", disse à AFP, por telefone, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

A senadora fez estes comentários depois dos tiros efetuados na noite de terça-feira contra dois dos três autocarros da comitiva.

Antes do incidente, Bolsonaro, segundo mais bem colocado nas sondagens para as eleições presidenciais de outubro, atrás de Lula, havia cumprimentado os ativistas que organizaram atos contra Lula, a quem chamou de "bandido".

O sul do Brasil é uma região hostil ao ex-presidente e, segundo meios de comunicação, vários assessores o desaconselharam a lançar-se nesta campanha.

Lula, Bolsonaro, MBL, todos em Curitiba

Bolsonaro, que deve chegar à capital paranaense às 11h30 (hora local) desta quarta-feira, desafiou Lula na segunda-feira a mostrar "quem mais leva o povo na rua de graça".

Os seus simpatizantes vão recebê-lo no aeroporto, de onde partirá para Ponta Grossa (a 115 km de Curitiba), para participar de um ato político.

Apesar de liderar as sondagens, Lula pode ter a candidatura invalidada pelos tribunais, após ter tido confirmada a condenação a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo nas sondagens, mas com metade dos votos, Bolsonaro faz apologia da ditadura militar (1964-85).

O Movimento Brasil Livre (MBL), muito ativo nos protestos que acompanharam o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, convocou uma passeata até o Parque Barigui, a menos de um quilómetro de outra praça, a Santos Andrade, onde terá lugar uma iniciativa do PT.

"Há risco de confrontos", assumiu o consultor e cientista político Paulo Mora, que alerta para uma radicalização crescente no país.

"Se a campanha oficial nem começou e já chegamos à fase de ovadas e pedradas, o risco é a eleição sair do controlo, estimulada pelo excesso de candidatos versus a falta de ideias e programas", considerou esta terça-feira a colunista Eliane Cantanhede, do Estado de S.Paulo.

A própria Dilma Rousseff expressou receio de um "banho de violência" durante a campanha.

Os adversários de Lula sentiram-se frustrados depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) proibir a prisão do ex-líder sindical até pelo menos 4 de abril, quando os ministros devem decidir se ele tem o direito a apelar em liberdade aos máximos tribunais da sentença de mais de 12 anos de prisão.

"Pelo que se viu das hostilidades entre esses movimentos no sul, se o Lula não for preso teremos uma campanha marcada pela violência", afirma Paulo Mora.

É em Curitiba que atua o juiz federal de primeira instância Sérgio Moro, impulsionador da operação Lava Jato, que desvendou um gigantesco esquema de corrupção montado na Petrobras. As investigações levaram para a prisão altos empresários e políticos de todas as tendências e está na base da condenação de Lula.

Também nesta terça-feira, o ministro Nelson Fachin denunciou ter recebido ameaças contra a sua vida.

"Nos dias que correm, uma das preocupações que tenho não é só com julgamentos, mas também com segurança dos membros da minha família. Tenho tratado desse tema e de ameaças que têm sido dirigidas a membros da minha família (...). Essas circunstâncias não são singelas e espero que nada passe", disse Fachin em entrevista ao canal GloboNews.

Fachin é relator da Operação Lava Jato e do pedido de habeas corpus preventivo apresentado pela defesa de Lula, que começou a ser analisado pelo plenário do Supremo na última quinta-feira.

O ministro foi contrário à análise do habeas corpus pelo plenário do Supremo.

A violência de cunho político demonstrou este mês que no Brasil é possível ir além das ameaças, após o assassinato da vereadora do PSOL-RJ Marielle Franco, conhecida pela sua luta contra o racismo, as discriminações e as denúncias de excessos policiais em comunidades.