O país registou 83.988 crimes de violação em 2023, um recorde desde que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) começou a recolher esses dados em 2011 a partir dos registos policiais.

No seu relatório anual, o FBSP constata um aumento de 91,5% no número de violações em relação aos índices de 2011, e um aumento praticamente ininterrupto nos últimos 13 anos.

Das vítimas, 88,2% são mulheres e 61,6% são menores de 14 anos. Os agressores dos menores são familiares em 64% dos casos.

O aumento do número de casos registados nas esquadras demonstra “uma maior conscientização, [...] pessoas mais encorajadas a denunciar”, mas "também não podemos ignorar que esse crescimento revela, também, um elevado número de vítimas”, disse à AFP Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP.

Bueno afirmou que os abusos sexuais continuam a ser subreportados. “Quando falamos de crianças, é muito comum que essas violências se reproduzam por muito tempo, até que algum responsável, mesmo a escola, identifique essa violência", explicou.

Quanto aos homicídios, o Brasil, com 203 milhões de habitantes, registou 46.328 em 2023, a primeira marca abaixo dos 47.000 em todo o histórico documentado pelo FBSP. Isso representa uma queda de 3,4% em relação a 2022, o terceiro declínio anual consecutivo no país.

Mas a taxa de homicídios, de 22,8 por 100.000 habitantes, é quase quatro vezes superior à média mundial (5,8 por 100.000) calculada pelas Nações Unidas.

“No Brasil vivem aproximadamente 3% da população mundial, mas o país, sozinho, responde por cerca de 10% de todos os homicídios cometidos no planeta”, diz Renato Sérgio de Lima, presidente do FBSP, citado em comunicado.

O relatório também enumera 6.393 pessoas mortas durante intervenções policiais em 2023, um pouco menos do que em 2022 (6.429). Destas, 82,7% eram negras e 71,7% tinham entre 12 e 29 anos.