Nesta segunda-feira, 42 presidiários morreram em confrontos em quatro prisões estatais, a maioria com indícios de morte por asfixia, informaram as autoridades. As mortes ocorreram no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), a 28 quilómetros de Manaus, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), na Unidade de Prisões de Puraquequara (UPP) e outros cinco no Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM 1).

No domingo, 15 presidiários morreram no Compaj, durante o horário de visitas. A mesma prisão foi palco em janeiro de 2017 de uma rebelião sangrenta que durou vinte horas e fez 56 mortos, um dos piores massacres alguma vez registados em prisões brasileiras.

O governo federal anunciou o envio de agentes para reforçar a segurança nas prisões do Amazonas.

A Secretaria de Administração Penitenciária do Amazonas (SEAP) informou que os assassinatos ocorreram após um desentendimente entre reclusos que integravam a mesma facção criminosa que atua no tráfico de drogas no Estado", e que a intervenção dos agentes evitou a morte de pelo menos outros 200 presidiários "ameaçados de morte".

Os presos não utilizaram facas ou armas de fogo, destacou a SEAP.

O facto de as mortes terem sido coordenadas em quatro estabelecimentos diferentes indica que tudo terá sido "um ajuste de contas", disse Robert Muggah, diretor do instituto de investigação de Igarape, do Rio de Janeiro.

Problemas estruturais no sistema prisional brasileiro

Sobrelotação, condições desumanas e facções no controle dos presídios: o Brasil enfrenta há décadas problemas estruturais no sistema carcerário, cuja população não para de crescer.

O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, com 726.712 reclusos, segundo dados oficiais de junho de 2016, um número que representa o dobro da capacidade prisional do país, que no mesmo ano era estimada em 368.049.

"As prisões continuam a ser locais de violações graves de direitos humanos e que ferem a dignidade. As condições são péssimas, com uma maioria de presos pobres, negros, pouco escolarizados e das periferias, que cometeram crimes vinculados ao tráfico ou patrimoniais", disse à AFP Juliana Melo, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e especialista no sistema prisional do país.