As preocupações são “múltiplas porque, ontem [quinta-feira] a carta assinada pela primeira-ministra britânica coloca a defesa do interesse do povo britânico de uma forma que não salvaguarda de maneira nenhuma as especificidades dos irlandeses, em particular da Irlanda do Norte, mas a preocupação fundamental é a fronteira”, afirmou Marisa Matias.

A eurodeputada do Bloco de Esquerda falava no âmbito de uma missão que a Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde realizou à Irlanda do Norte e à República do Norte por causa do ‘brexit’ e que termina hoje.

“Tivemos oportunidade de viajar ao longo de vários pontos da fronteira e reunir com comunidades próximas quer da Irlanda do Norte, quer da República da Irlanda, e a questão da fronteira coloca-se, obviamente, como a questão central”, salientou.

Em causa está o conflito de mais de 30 anos na Irlanda do Norte e que terminou com a assinatura do Acordo de Belfast (acordo da sexta-feira santa) assinado em 1998.

“Se para as gerações mais novas a fronteira é uma inexistência, porque nunca a viram, nunca a conheceram, para as gerações mais velhas e que viveram o problema do conflito é uma questão essencial”, disse à Lusa.

A preocupação das pessoas com a fronteira, explicou a eurodeputada, está relacionada com as famílias, que estão divididas, cuidados de saúde, e no controlo de pessoas, mas também na imposição de barreiras alfandegárias, o que poderá vir a afetar a economia local.

“As pessoas estão muito preocupadas e isto põe em causa o processo de paz. Foi um dos maiores medos manifestados pelas pessoas”, salientou.

“É uma situação muito diferente e que não está consagrada na forma como o processo foi iniciado pela primeira-ministra britânica. É uma situação muito específica e precisa de ser tratada com um estatuto especial”, insistiu.

Marisa Matias explicou também que a preocupação é partilhada seja nas “populações fronteiriças, seja pelos defensores de uma república unificada da Irlanda, seja pelos unionistas, mais ligados à visão da irlanda do norte fazer parte integrante do Reino Unido”.

No âmbito da missão, os eurodeputados vão propor que seja incluída na resolução do parlamento europeu sobre o ‘brexit’ três questões fundamentais, nomeadamente o respeito pela integridade do acordo da sexta-feira santa, que não seja restabelecida a fronteira e haja um estatuto especial.

Na quarta-feira, o Governo da República da Irlanda afirmou que a saída do Reino Unido da União Europeia terá “consequências políticas, económicas e sociais significativas para o seu país, mas disse acreditar que o impacto será amortizado durante as negociações.

O Governo irlandês destacou a necessidade de proteção do processo de paz na Irlanda do Norte, bem como a manutenção de uma “fronteira aberta”.

O Reino Unido também manifestou que quer evitar o regresso de uma “fronteira” com a República da Irlanda, tendo destacado na carta a responsabilidade de assegurar que não se faz nada que possa pôr em causa o processo de paz na Irlanda do Norte e que o Acordo de Belfast continue em vigor”.