Há quase dois anos, o Reino Unido decidia, em referendo, sair da União Europeia. O resultado da consulta, prometida pelo então primeiro-ministro, apanhou David Cameron de surpresa. A porta, já escancarada, era impossível de fechar e, desde então, os britânicos têm estado a fazer as malas para sair do bloco europeu.

Hoje, há quem sonhe com uma reversão. O antigo primeiro-ministro Tony Blair e outros políticos pró-UE da oposição apelaram à realização de um segundo escrutínio, argumentando o facto de os britânicos não terem conhecimento, no momento da votação, de todas as implicações de uma saída do Reino Unido da União. As sondagens mostram que os britânicos continuam muito divididos. Todavia, esta eventualidade foi excluída pela primeira-ministra conservadora, Theresa May

Agora, o homem responsável por apoiar a líder britânica, David Lidington, que assume uma figura política semelhante à de vice-primeiro-ministro, diz que, em política, não se deve dizer nunca e que, por isso, não se pode afastar por completo a hipótese de um regresso. Regresso, porém, que só ocorrerá caso a União Europeia passe por uma remodelação.

Isto não significa que o Reino Unido esteja ativamente a pensar num regresso ao bloco europeu — de onde, na realidade, ainda não saiu. Antes significa que, apesar de ser improvável que o Reino Unido se junte a uma União Europeia na sua atual forma, não é de descartar um regresso a uma união reformada. “Vai ter de existir a necessidade de um sistema de cooperação dentro do continente europeu, incluindo no Reino Unido, que inclua tanto a cooperação económica como política”, disse o ministro de May.

E acrescenta: “daqui a uma geração podemos estar diante de uma União Europeia com uma configuração diferente da atual e a relação exata entre o Reino Unido e esse futuro sistema — o que quer que venha a ser — de cooperação europeia é algo que os parlamentos futuros, as gerações futuras, vão ter de considerar”.

Lidington apoiou o “ficar” na UE, no referendo sobre a presença do Reino Unido na UE, realizado a 23 de junho de 2016. A consulta registou 52% de votos a favor da saída, contra 48% a defenderem a permanência.

Se é ou não necessária uma nova União Europeia, Lidington não arrisca. Essa decisão é para as futuras gerações, já que, hoje, o ministro de May não consegue “prever o que essa rede de organizações e alianças, incluindo a UE, e como é que elas mudaram, vão parecer daqui a 10 ou 20 anos”.

UE também não fecha a porta a um regresso

Na semana passada, em Estrasburgo, o presidente do Conselho Europeu abria a porta a uma eventual reversão do processo que levará à saída do Reino Unido da União Europeia. No plenário, Tusk antevia as relações futuras entre a União Europeia a 27 (UE27) e o Reino Unido, sublinhando a necessidade de uma "maior clareza" por parte dos britânicos quanto às intenções do país que está com um pé de fora do bloco.

Na mensagem, o presidente do Conselho Europeu escreve que "a menos que haja uma mudança de opinião dos nossos amigos britânicos, o #Brexit vai ser uma realidade - com todas as suas consequências negativas - em março do próximo ano. Nós, aqui no continente, não tivemos uma mudança de ideias. Os nossos corações ainda estão abertos para vocês".

À parte a esperança de que os britânicos mudem de ideias, Tusk diz que a parte mais trabalhosa do Brexit ainda está por chegar "e o tempo é limitado". "Temos de manter a unidade da UE27 em todos os cenários", afirma Donald Tusk, que diz ter confiança de que a unidade entre os 27 se manterá.

Também o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, reiterou que "a porta da UE continua aberta" e disse esperar que a mensagem de Tusk "seja claramente ouvida em Londres".

No referendo realizado em 23 de junho de 2016, 51,9% dos eleitores votou pela saída da UE. Na última semana, porém, ganhou força a ideia de um segundo referendo, que leve ao fim das negociações do divórcio em curso entre Londres e Bruxelas.

Uma sondagem publicada recentemente pelo tabloide Daily Mirror concluiu, no entanto, que, numa nova consulta, mais de metade (55%) dos eleitores votaria pela permanência do Reino Unido na UE.

Ferrenho defensor do Brexit, o político britânico Nigel Farage sugeriu, na quinta-feira passada, a possibilidade de realizar um segundo referendo sobre o tema, antes da saída definitiva.

Nesse sentido, o presidente do Conselho Europeu referiu-se diretamente ao negociador britânico para o Brexit: "não foi o próprio David Davis que disse que, se uma democracia não puder mudar de opinião, deixa de ser uma democracia?".

O processo para a saída do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e Paíse de Gales) da União Europeia deverá ficar concluído em março do próximo ano.