"Temos de sair no dia 31 de outubro, porque senão receio que possamos assistir a uma perda catastrófica de confiança nos políticos. Nós empurrámos com a barriga duas vezes. E eu acho que o povo britânico está a ficar completamente cansado, tenha votado para ficar ou para sair [na União Europeia]", afirmou o antigo ‘mayor' de Londres Boris Johnson, durante um debate na BBC.

Sem se comprometer definitivamente com o prazo, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros considera que a saída naquela data é "perfeitamente viável" e que o país já fez bastantes preparativos para uma saída sem acordo, mesmo se deseja negociar com Bruxelas alterações ao acordo de saída relativamente à solução para a Irlanda do Norte.

"Nenhum de nós quer uma saída sem acordo. Nós não queremos um ‘Brexit' desordenado, porque isso obviamente seria o tipo de ‘Brexit' que prejudicaria os interesses da economia. No entanto, temos de ser responsáveis e preparar-nos para essa eventualidade", vincou.

O Conselho Europeu aceitou em abril prolongar até 31 de outubro o período de negociação da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), prevista inicialmente para 29 de março, mas também deixou explícito nas suas conclusões que não iria alterar o conteúdo do acordo negociado com o Governo britânico.

O ministro do Interior, Sajid Javid, proclamou ser "fundamental" uma saída em 31 de outubro e defendeu que se devem acelerar os preparativos para uma saída sem acordo para pressionar Bruxelas a renegociar o acordo.

Na sua opinião, a falta de preparação para aquele cenário foi um dos erros que contribuiu para o impasse do processo de saída do Reino Unido da UE.

"Nós devemos preparar-nos para uma saída sem acordo precisamente porque queremos negociar. São esses preparativos que concentram novamente os espíritos, porque a UE também não quer uma saída sem acordo. E a melhor maneira de conseguir um acordo é garantir de que se está preparado. Um primeiro-ministro responsável deve estar pronto para todas as eventualidades", argumentou.

O ministro do Ambiente, Michael Gove, e o atual ministro dos Negócios Estrangeiros, mostraram-se mais flexíveis, indicando estarem dispostos a aceitar um terceiro adiamento da data do ‘Brexit'.

"Se chegássemos ao dia 31 de outubro e não houvesse perspetiva de um acordo para a saída da UE, então eu sairia sem um acordo. Se houvesse uma perspetiva, se estivéssemos quase lá, eu demoraria um pouco mais", explicou Jeremy Hunt, atual ministro dos Negócios Estrangeiros.

Gove lembrou que fez campanha pelo ‘Brexit' e que também está frustrado com a demora, mas adiantou que admitiria esperar "um par de dias adicionais" para conseguir concluir um acordo.

"Quem pode opor-se a mais 24 ou 48 horas extra para conseguir, se às vezes se vai a prolongamento nos jogos de futebol para encontrar o vencedor? A minha opinião é que o mais importante é conseguir uma vitória para o Reino Unido", esclareceu.

O único dos cinco candidatos à sucessão de May a opor-se claramente a um ‘Brexit' sem acordo foi o ministro para o Desenvolvimento Internacional, Rory Stewart, que assumiu que nunca aceitará uma saída sem acordo por entender que é "desnecessário e prejudicial".

Acusando os restantes de não estarem a ser realistas, Rory Stewart refutou ser possível negociar um novo acordo de saída com Bruxelas até 31 de outubro e recordou a necessidade de se conseguir um consenso no parlamento britânico.

"Precisamos deixar a União Europeia o mais rápido, eficiente e legalmente possível", reconheceu Stewart, que tem como plano tentar aprovar o documento negociado por Theresa May.

"Há apenas uma porta de saída, que é através do parlamento. Eu pouparia o tempo, não perdendo tempo a fingir que ia negociar um novo acordo com Bruxelas", revelou.

Na opinião de Rory Stewart, o resultado das eleições europeias, que deixou o partido Conservador em quinto lugar, atrás do Partido do ‘Brexit’, Liberais Democratas, Partido Trabalhista e Verdes, é o incentivo que faltava para convencer os deputados britânicos.

"Vamos acabar com isto. Vamos aprová-lo. Vamos concretizá-lo [‘Brexit’]. É a maneira mais rápida e legal de o fazer", disse.

O debate televisivo realizou-se duas horas depois de conhecidos os resultados da segunda volta da eleição interna para a liderança do partido Conservador britânico, na qual foi eliminado Dominic Raab, restando apenas cinco dos 10 candidatos iniciais.

Boris Johnson foi novamente o vencedor destacado, com 126 votos dos 313 deputados conservadores habilitados a votar, seguindo-se Jeremy Hunt (46 votos), Michael Gove (41), Rory Stewart (37) e Sajid Javid (33).

Na quarta-feira, uma terceira volta vai eliminar o candidato com menos votos e para quinta-feira estão previstas votações consecutivas até restarem apenas dois finalistas, os quais serão depois submetidos ao voto dos cerca de 160 mil militantes do partido.

Theresa May mantém-se em funções até à conclusão do processo, esperado para o final de julho, mas deverá apresentar a demissão logo que o sucessor esteja definido.