As eleições antecipadas seguem-se ao derrube do governo pró-ocidental do líder da aliança Continuamos a Mudança, Kiril Petkov, em junho, que perdeu uma moção de censura no parlamento, apenas seis meses depois de tomar posse.

A iniciativa da moção de censura partiu do partido Cidadãos pelo Desenvolvimento Europeu da Bulgária (GERB, direita conservadora), de Boiko Borissov, que esteve uma década no poder e é apontado como favorito nas sondagens.

Com cerca de sete milhões de habitantes, o país eslavo dos Balcãs, de religião ortodoxa e tradicionalmente próximo de Moscovo, vai às urnas dividido em relação à guerra na Ucrânia, que a Rússia iniciou em 24 de fevereiro deste ano.

O governo de Petkov recusou pagar a Moscovo os fornecimentos de gás na moeda russa, o rublo, e expulsou da Bulgária 70 funcionários diplomáticos russos.

O governo interino entretanto nomeado adotou uma abordagem mais suave em relação à Rússia, “complicando a posição da Bulgária como membro da NATO e da União Europeia (UE)”, segundo a Fundação Internacional para Sistemas Eleitorais (IFES, na sigla em inglês), com sede nos Estados Unidos.

Numa declaração sobre a votação do domingo, a IFES alertou para o perigo de “interferência externa ou mesmo de adulteração” de uma eleição que “incitará ideologias pró-ocidentais e pró-russas”.

Com a previsão de uma abstenção elevada, as eleições poderão não resolver o impasse político, dado que as sondagens indicam uma divisão de votos que tornará difícil a formação de um governo com uma maioria confortável, segundo as agências internacionais.

Um recente inquérito da Gallup International, citado pela agência norte-americana AP, atribuiu a vitória ao GERB, com 25,9% de votos, seguido do partido de Petkov, com 19,2%.

Parvan Simeonov, um analista político da Gallup International baseado em Sófia, disse que a guerra na Ucrânia tem uma forte influência nestas eleições.

“Enquanto nas sondagens anteriores a divisão era a favor e contra o modelo de governação dos últimos 10 anos personificado pelo GERB e Boyko Borissov, as principais questões agora são a estabilização, manter os preços baixos e lidar com as consequências da guerra”, disse Simeonov à AP.

“A principal divisão do país encontra-se agora entre Leste e Ocidente no mapa político, e não entre o ‘status quo’ e a mudança”, acrescentou.

Relativamente às eleições anteriores, desapareceu a luta contra a corrupção, promovida por Petkov, com os búlgaros mais preocupados com as suas condições de vida.

De acordo com um inquérito recente, 80% dos búlgaros receiam ficar sem gás natural e, portanto, sem aquecimento nos meses de inverno.

“As principais questões [nas eleições] são a inflação, o empobrecimento e a crise em geral”, disse o sociólogo búlgaro Andrey Raychev à agência espanhola EFE.

“A questão já não é quem rouba quanto, mas porque há tanta inflação e como pode ser controlada”, acrescentou.

Boiko Borissov, dirigindo-se aos apoiantes do partido no último evento da campanha em Sófia, mostrou-se confiante numa vitória clara do GERB.

“Esta é a única solução para a Bulgária. Temos a rara oportunidade de ter um governo estável”, disse o ex-primeiro-ministro, de 63 anos, que está a disputar um quarto mandato.

Kiril Petkov, 42 anos, considerado um liberal pró-europeu, está também confiante em resultados positivos.

“Espero certamente que sejamos o primeiro poder político. O objetivo é ter uma maioria no próximo parlamento juntamente com os outros dois partidos – Bulgária Democrática e Partido Socialista”, disse Petkov à AP.

Os apelos do líder do partido pró-Rússia Vazrazhdane, Kostadin Kostadinov, para a “total neutralidade” da Bulgária na guerra na Ucrânia parecem atrair muitos eleitores, já que as últimas sondagens lhe atribuem 11,3% dos votos, contra 4,9% nas eleições anteriores.

Membro da NATO desde 2004, e da UE desde 2007, a Bulgária tinha o Produto Interno Bruto (PIB) ‘per capita’ mais baixo da UE em 2021.

Para a votação de domingo, estão inscritos mais de 6,6 milhões de eleitores, que vão escolher os 240 deputados do parlamento de entre mais de 5.300 candidatos distribuídos por 867 listas.