“Pedimos esse apoio, para que não nos deixem agora”, num ato de mobilização que deve incluir todas as pessoas e organizações, das locais às globais, “seja a União Europeia (UE), Nações Unidas, União Africana, todos os que puderem ajudar, da maneira que puderem”, destacou Luiz Fernando Lisboa.
Mesmo que a guerra em Cabo Delgado terminasse já, a ajuda seria necessária durante muito tempo.
“Se a guerra terminasse hoje, íamos precisar ainda de vários anos para reconstruir” o tecido social, destacou, após receber um donativo de 100 mil euros do Papa Francisco, que espera ajude a mobilizar mais doadores.
“Vemos o que se passa com preocupação”, sublinhou, face ao anúncio do Programa Alimentar Mundial (PAM) de corte no apoio alimentar aos deslocados da violência armada, por falta de doações.
“Isso mostra que temos de intensificar a nossa campanha no sentido de conseguirmos mais apoio. As pessoas não podem ficar sem alimento”, numa região onde se perdeu quase tudo o que estava nos campos, por causa da violência armada.
“Há pessoas que não produzem há três anos com medo da guerra e quando fugiram de casa deixaram tudo para trás”, acrescentou.
Além do mais, a época atual – até novas colheitas, em abril – é de escassez.
“Aqui, temos um período de fome a cada ano e essa situação vai agravar-se ainda mais se por parte dos doadores houver um certo fecho, uma certa dificuldade. Então, teremos muitos problemas aqui”, alertou.
O cenário leva a intensificar os apelos e a campanha: “não se esqueçam de nós. Vamos precisar de ajuda durante muito tempo”.
Os 100 mil euros entregues pelo Papa Francisco vão servir para construir dois centros de saúde que deverão estar prontos até março.
Depois de o líder da igreja católica ter começado a falar de Cabo Delgado, como, por exemplo, na Páscoa, “houve uma maior abertura por parte de muitos grupos, organizações e inclusive de vários países”.
“Acredito que a figura dele, muito emblemática, forte, tenha dado essa ajuda para tornar esta crise não apenas nossa, de Cabo Delgado, mas uma crise em que o mundo todo tem de ser responsável”, concluiu o bispo.
A violência armada em Cabo Delgado, norte de Moçambique, está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 500 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
A província onde avança o maior investimento privado de África, para exploração de gás natural, está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019.
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