Em declarações à agência Lusa, em Lisboa, Abraão Vicente revelou que a intenção do Governo é “fazer do campo de concentração uma espécie de campo internacional pela paz”.
“Vamos apresentar uma candidatura que não retrata apenas o sofrimento e um certo estigma que existe sobre o ex-campo de concentração do Tarrafal. Queremos criar um projeto museológico que ensina aos cabo-verdianos, aos portugueses, aos angolanos, aos guineenses e ao mundo que passa por Cabo Verde o que nós, como povo, aprendemos com a existência de um campo de concentração no nosso território e criar um campo em que se possam promover diálogos pela paz”, disse.
No final de um encontro com o ministro da Cultura português, no qual foi discutida a questão da candidatura do campo do Tarrafal a património da Humanidade, o ministro cabo-verdiano explicou que o Governo a que pertence defende “uma candidatura conjunta: Cabo Verde, Angola e Portugal, envolvendo a Guiné-Bissau”.
Segundo Abraão Vicente, o seu homólogo português defendeu a ligação do Tarrafal à Fortaleza de Peniche, em Portugal, onde durante o regime do Estado Novo funcionou uma prisão política, da qual se registaram célebres fugas, como a do líder comunista Álvaro Cunhal.
A ideia final, adiantou, é “ligar o campo de concentração do Tarrafal a todo o sistema prisional construído durante a época salazarista, mas numa perspetiva cabo-verdiana”.
É objetivo da iniciativa mostrar o que o povo cabo-verdiano aprendeu “a experiência da colonização”.
“A Cidade Velha, património da humanidade, é toda a experiência da fundação do povo cabo-verdiano. O campo de concentração mostra o período do final do colonialismo, a nossa ligação com Portugal e as outras colónias portuguesas, o modo como fomos inseridos num processo que também foi doloroso para Portugal”, prosseguiu.
Segundo Abraão Vicente, no projeto museológico do Tarrafal irão ser “homenageadas as personalidades que estiveram presas, não só os anarquistas, comunistas, os que se opuseram ao regime de Salazar, mas aproveitar todo o sistema montado que garantiu a sobrevivência pela opressão de todo um regime durante tantas décadas”.
“Além das pessoas que se destacaram como notáveis após a prisão, vamos contar a história de todos os prisioneiros que passaram por Cabo Verde. Vamo-nos focar nas micro-histórias”, disse.
Nesse sentido, todos os prisioneiros serão conhecidos: “Todos vão ter a sua ficha, o motivo por que foram presos, vamos contar a história de cada prisioneiro”.
Para o ministro, ganhar a candidatura representaria “o restauro da autoestima”.
“Não havia campo de concentração antes do campo de concentração. Foi uma ideia inicial de um conjunto de portugueses que foram expatriados, não só para serem presos, mas para construírem a sua própria prisão”, referiu.
A apresentação da candidatura deverá ocorrer em 2020, tendo sido criado um grupo técnico que já está a trabalhar neste projeto.
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