Segundo simulações da Agência geológica americana (USGS), um terramoto de 7,8 graus de magnitude na ponta sul da falha de San Andreas causaria um tremor de terra de dois minutos, mataria pelo menos 1.800 pessoas, deixaria cerca de 53.000 feridos e causaria danos materiais no valor de 213 mil milhões de dólares. E a Califórnia não está preparada.

Está é a conclusão de um relatório recente, escreve a AFP. O Estado norte-americano, exposto a um terramoto de quase oito graus de magnitude na escala Richter, precisa de se preparar para o 'Big One' (O Grande). Esta é a única forma de "evitar que o desastre inevitável se transforme numa catástrofe”, pode ler-se no documento.

O calcanhar de Aquiles do estado, segundo o documento, é o Cajon Pass, uma estreita passagem montanhosa onde a falha geológica de San Andreas passa debaixo de vias vitais como estradas, trechos ferroviários, aquedutos, oleodutos, gasodutos e cabos de alta tensão da rede elétrica.

Um sismo provocado pelo movimento das placas da falha de San Andreas cortaria quase toda a circulação para o sul do estado, impedindo o fornecimento de ajuda humanitária a cerca de 20 milhões de pessoas, e complicando o trabalho de reconstrução, alertam os especialistas.

As ruturas nos oleodutos poderiam gerar explosões e incêndios que seriam difíceis de controlar.

"Quando o terremoto ocorrer, todos os aquedutos se vão romper ao mesmo tempo", explicou à AFP a sismóloga Lucy Jones, assessora da comissão de Redução de Riscos de Desastres do sul da Califórnia, que produziu o relatório.

A única maneira de remediar isto, segundo Jones, é procurar fontes de água alternativas, incluindo aquíferos poluídos debaixo da região de Los Angeles, que poderiam ser tratados, embora a um custo muito alto. "A melhor defesa contra um aqueduto partido é não precisar de um aqueduto", afirmou Jones.

Instalar válvulas automáticas de interrupção nos gasodutos e oleodutos próximos à falha de San Andreas também poderia evitar incêndios, indica o relatório.

A energia solar poderia servir para manter a comunicação com o resto do mundo quando o 'Big One' tiver cortado o abastecimento de eletricidade, acrescentou Jones.

Além disso, muitos dos edifícios do sul da Califórnia correm o risco de desabar, devendo os proprietários modernizar as suas estruturas, recomendam os especialistas.

O maior terremoto já registado na Califórnia foi o de Fort Tejon, em 1857, que provocou uma rutura de 360 km na falha de San Andreas.

Os cientistas dizem que, desde então, a pressão e a energia sísmicas aumentaram de maneira dramática ao longo da falha, que marca o limite entre duas placas tectónicas, uma da América do Norte e outra do Pacífico.

"É inevitável que ocorra um grande terremoto porque a pressão tem que ser aliviada", afirmou Robert Graves, sismólogo da USGS.

Dada a certeza de que o desastre ocorrerá, a Califórnia deve agir em relação às suas vulnerabilidades para limitar os danos, indicou o investigador. "É necessário que as pessoas reconheçam que um fato como este afeta toda a comunidade”, acrescentou.

"Se todos os edifícios do meu bairro desmoronam e os sistemas de abastecimento de água e eletricidade não funcionam, não importa se a minha casa está intacta. Estamos todos juntos nisto", concluiu Robert Graves.