Para todos os partidos, mas especialmente para os mais votados – Fretilin e CNRT, separados por mil votos -, os próximos dias são essenciais para determinar o futuro imediato e o ambiente político que vai marcar os próximos cinco anos.

Na imprensa local este é o único tema em debate, num país que está praticamente parado há mais de um mês – o Governo e o Parlamento funcionaram, mas a muito menos que meio gás – e que ainda vai ter de esperar algumas semanas até ter novos “timoneiros”.

Não há maiorias absolutas e qualquer dos dois mais votados (a Fretilin com 23 lugares e o CNRT com 22) tem condições – se somar pelo menos duas das restantes três forças que estão também no Parlamento – para poder assumir as rédeas do VII Governo constitucional.

No caso da Fretilin, a festa começou cedo – 12 horas antes da contagem fechar -, com o partido a confiar nos próprios números para garantir que tinha a vitória. Ao início da noite, o CNRT começou a passar a ideia de que os seus números contavam o contrário.

Uma confiança que soava a falso e que não se via nos dirigentes e militantes na sede onde, ao contrário da música e das luzes na sede da Fretilin, o ambiente era sombrio e de algum descrédito.

Sabendo que a margem ia ser curta, a Fretilin manteve a festa até de madrugada. Celebrações que contrastavam com o nervosismo que Cipriana Pereira, secretária adjunta da Fretilin, mostrava, na sede do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) onde acompanhou, com os jornalistas, o “pingar” da contagem de Díli.

“Vamos esperar até ao fim”, dizia, cada vez que, com cada centro de votação completado, se reduzia a vantagem de votos que o partido trazia dos restantes municípios.

Depois, já passava das 04:00 da madrugada quando o final total provisório confirmou a vitória da Fretilin, Cipriana Pereira deixou uma curta mensagem, dizendo à Lusa que depois de 10 anos na oposição, o partido “assume esta grande responsabilidade”, abrindo “as portas a que todos possam trabalhar juntos”.

“O mais importante é a estabilidade e a paz”, afirmou.

Já hoje de manhã o ambiente do CNRT mantinha-se de incredulidade. Ninguém queria assumir ou sequer falar de cenários, explicando que há que ouvir o presidente, Xanana Gusmão, e depois tomar uma deliberação interna.

Fontes do partido admitiram à Lusa o mal-estar que se sente e a incredulidade com o resultado para quem estava tão confiante numa ampla vitória: dirigentes do partido, incluindo o próprio Xanana Gusmão, prometiam na reta final da campanha uma maioria absoluta clara. A derrota não fazia sequer parte dos seus planos.

Há quem diga que tudo depende da conversa “dos velhotes” – Xanana e Alkatiri. Até ao momento, e segundo confirmaram à Lusa dirigentes dos dois partidos, Alkatiri e Gusmão ainda não falaram, eventualmente porque há primeiro que ter diálogos internos.

Mas há quem faça referências a outro cenário. Uma reedição do que ocorreu há 10 anos quando à vitória por maioria relativa da Fretilin, o CNRT respondeu com uma coligação com as restantes forças políticas, a Aliança de Maioria Parlamentar (AMP).

Na Fretilin tudo indicava que “amanhã [terça-feira] ou quarta-feira” se reunirá o Comité Central para debater os resultados e ver os passos a seguir, incluindo as decisões bicudas sobre quem será primeiro-ministro e com quem o partido pretende negociar apoios.

Alkatiri disse, no domingo, que estava de braços abertos para todos e em especial para Xanana Gusmão, pelo que o primeiro cenário poderá ser uma parceria a dois.

Juntos a Fretilin e o CNRT controlam 45 lugares no Parlamento, mais que suficientes para aprovar tudo, podendo em muitos casos ter ainda o apoio, pelo menos, do Partido Democrático (PD) cujo líder, Mariano Sabino, defendeu durante a campanha um Governo de inclusão.

Depois de uma intensa campanha de um mês, de um renhido e prolongado processo de contagem, as próximas 48 horas serão de muitas conversas de bastidores. Delas sairá o destino imediato da governação de Timor-Leste.

Texto de António Sampaio e fotografia de Nuno Veiga | LUSA

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