Várias rádios têm estado a retirar as músicas de Michael Jackson do ar numa reação às revelações do documentário “Leaving Neverland”. Na Nova Zelândia, a emissora pública e os principais rivais comerciais uniram-se para deixar de passar os êxitos do cantor norte-americano. Ao todo, a base de ouvintes destas estações abarca mais de metade da população daquele país.

A RNZ alega que há uma “apreciação editorial” a todas as músicas que passam no ar e atualmente Michael Jackson não faz parte do repertório, conta o britânico ‘The Guardian’. Também a MediaWorks, que detém nove rádios neozelandesas, confirmou à mesma fonte que o artista saiu de todas as listas de música das estações de que é dona, “refletindo as nossas audiências e respetivas preferências”.

Os rivais da NZME fizeram o mesmo. O diretor da emissora, Dean Buchanan, explica que “as ‘playlists’ mudam de semana para semana e neste momento Michael Jackson não faz parte delas”.

Não é certo até quando as músicas de Jackson ficarão fora das telefonias neozelandesas. “Seremos guiados pela nossa audiência”, disse a MediaWorks, citada pelo ‘The Guardian’.

Por outro lado, outras rádios, como a emissora pública britânica BBC, negaram ter banido Jackson das suas listas, afirmando que cada música deve ser considerada pelos seus méritos, explica ainda o ‘Guardian’.

Estas decisões surgem depois de um documentário onde dois homens alegam ter sido abusados por Jackson quando ainda eram crianças. O cantor norte-americano, que morreu em 2009 aos 50 anos, começou nessa altura a recuperar da má reputação que durante anos o perseguiu, de ter molestado crianças, com fãs em todo o mundo a celebrar o artista pop.

Dez anos depois da morte de Jackson, um documentário de quatro horas, com depoimentos e provas de que o cantor terá abusado sistemática e reiteradamente de crianças, estreou-se na televisão nos Estados Unidos, no canal HBO, depois de ter tido antestreia em janeiro, no Festival Sundance de Cinema, nos Estados Unidos.

Antes de as rádios neozelandesas avançaram com a retirada, já no Canadá havia quem tivesse feito o mesmo. Três grandes rádios canadianas retiraram as músicas do norte-americano na segunda-feira. A porta-voz de um dos grupos disse mesmo que a saída das músicas do “rei da pop” foi uma resposta às reações dos ouvintes a este documentário.

O documentário centra-se no testemunho de dois homens, Wade Robson e James Safechuck, que dizem ter sido abusados durante anos por Michael Jackson, desde muito jovens.

O coreógrafo australiano Wade Robson, agora com 36 anos, revelou que o músico abusou sexualmente dele desde os 7 anos de idade e que o violou até aos 14 anos, enquanto James Safechuck, de 40 anos, declarou que Michael Jackson abusou dele “desde os 10 até perto dos 14″, segundo revelaram à BBC.

Os dois homens responderam ainda afirmativamente à pergunta sobre se os abusos haviam ocorrido “centenas e centenas de vezes”.

Robson, que, segundo o jornal 'The Guardian', conheceu o “rei da Pop” durante uma digressão pela Austrália, contou que “cada vez que estava com ele, cada vez que ficava à noite com ele” era abusado, acrescentando que o cantor o acariciava, “tocando-lhe no corpo todo”, até que aos 14 anos o violou.

“Esta foi uma das últimas experiências de abuso sexual que tivemos”, disse Wade Robson ao programa de Victoria Derbyshire, da BBC.

O australiano revelou ainda que o cantor lhe fez crer que entre eles havia amor e que lhe chegou a dizer: “se alguém descobre alguma vez o que estamos a fazer, tu e eu poderemos ir parar à prisão para o resto das nossas vidas”.

“Tudo isto era aterrador para mim. A ideia de me separar de Michael, este homem, esta figura de outro mundo, este deus para mim, que agora se havia tornado o meu melhor amigo, de maneira nenhuma eu iria fazer algo que nos afastasse”, acrescentou, sublinhando que o músico era um “mestre em manipulação”.

Por seu lado, James Safechuck disse que os abusos começaram quando Michael Jackson lhe ensinou como se tinham relações sexuais, quando tinha 10 anos, e que depois disso muitos outros atos sexuais se sucederam.

A família do músico já veio entretanto afirmar que não há quaisquer “provas” que confirmem estas acusações contra o cantor, enquanto os gestores do seu património encetaram uma guerra contra “Leaving Neverland”.

Segundo o 'The New York Times', além de uma série de declarações inflamadas feitas na altura da estreia do filme em Sundance, os gestores patrimoniais — cujos beneficiários são a mãe de Michael Jackson e três filhos, bem como instituições de caridade para crianças – entraram com uma petição no Tribunal Superior de arbitragem de Los Angeles, pedindo 100 milhões de dólares de indemnização à HBO.

Os responsáveis criticam o facto de todo o documentário ser suportado apenas pelos testemunhos destes dois homens, que acusam de “mentirosos”.