A eleição do titular da Câmara dos Representantes — a câmara baixa do Congresso dos EUA —, conhecido como "speaker", terceira figura mais importante da política norte-americana, requer uma maioria de 218 votos.
O republicano Kevin McCarthy é o principal favorito para substituir a democrata Nancy Pelosi, já que o seu partido conseguiu uma apertada maioria dos assentos na Câmara dos Representantes nas eleições intercalares de novembro
No entanto, o congressista eleito pelo 22º distrito do estado da Califórnia não foi capaz de obter essa maioria devido à revolta de um grupo oriundo do próprio partido Republicano, constituído por apoiantes do ex-presidente Donald Trump que o consideram moderado demais.
McCarthy não alcançou este número após três rondas de votação devido à oposição de cerca de 20 congressistas partidários de Trump, pelo que os congressistas decidiram adiar a sessão até à manhã desta quarta-feira para ter tempo de negociar nos bastidores — a eleição do presidente da Câmara dos Representantes pode ser decidida em horas, ou levar semanas. Em 1856, demorou dois meses.
Nas duas primeiras rondas de votação, 19 republicanos opuseram-se a McCarthy, ficando a faltar ao candidato 15 votos para obter a maioria de 218 assentos. No início da terceira ronda de votos, o desconforto tornou-se palpável e alguns republicanos mais moderados começaram a pedir aos seus colegas que apoiassem McCarthy. "Viemos aqui para fazer coisas", disse o líder republicano Steve Scalise, arrancando risos dos democratas.
Na terceira ronda, a situação agravou-se para o congressista da Califórnia, passando para 20 o número de opositores republicanos, que estão a bloquear a nomeação por considerar que McCarthy não os apoia nas suas iniciativas, nomeadamente para alterar as regras de funcionamento da própria Câmara dos Representantes.
Ao longo das votações, o partido de Biden uniu-se em torno da candidatura do líder democrata Hakeem Jeffries, aplaudindo-o sob gritos de "Hakeem, Hakeem, Hakeem!". No entanto, o congressista eleito por Nova Iorque não tem os votos suficientes calculáveis para ser eleito, ao contrário de McCarthy.
A candidatura de McCarthy conta com amplo apoio dentro do seu partido. De facto, o anúncio da sua indicação na terça-feira no plenário foi recebido com aplausos em pé. No entanto, o congressista vai ser forçado a tomar decisões difíceis.
McCarthy parece estar disposto a fazer concessões aos mais conservadores para evitar que a história se repita, uma vez que, em 2015, a ala mais à direita do seu partido também o impediu de ocupar o cargo. Mas tampouco se pode dar ao luxo de se colocar contra os republicanos moderados. Embora a margem de manobra de McCarthy seja reduzida, de momento não tem um adversário forte — como possível alternativa, circula apenas o nome de Jim Jordan.
O candidato já prometeu hoje que não vai desistir da corrida, adiantando que Donald Trump falou consigo e que o apoia. Após o fim da sessão de terça-feira, Trump — que pretende disputar novamente as eleições presidenciais em 2024 — criticou o que considerou tratar-se de uma "agitação supérflua" dentro do Partido Republicano.
Com os republicanos de novo a controlar a Câmara dos Representantes, Biden e os democratas perderam o poder para aprovar novas iniciativas. O mesmo acontecerá com os republicanos no Senado, onde os democratas são maioria.
Para alinharem-se numa oposição sistemática, os republicanos teriam de estar unidos. No entanto, na votação do orçamento, em dezembro, viu-se alguns a votar ao lado dos democratas. Com a eleição do "speaker", a desunião saltou à vista novamente.
Uma Câmara hostil poderia, inclusive, beneficiar Biden, caso confirme a sua intenção de voltar a candidatar-se à Presidência em 2024.
O presidente tem sido cauteloso ao comentar as divisões republicanas. A sua porta-voz, Karine Jean-Pierre, assegurou que o líder democrata não "se intrometerá neste processo".
Em caso de paralisação legislativa, o presidente americano deve culpar os republicanos pelo bloqueio, na esperança de se beneficiar politicamente.
No sentido oposto, os republicanos pretendem usar a maioria que obtiveram nas intercalares para abrir uma série de investigações. A maioria tem como alvo o presidente norte-americano, o democrata Joe Biden, entre elas sobre a forma como lidou com a pandemia de covid-19.
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