Nos “regadios mais visíveis”, como os do Alqueva, região do Tejo e Vale do Sorraia, “a agricultura que se pratica hoje não tem nada a ver, em termos da eficiência de rega, com o que se fazia há 10, 15 ou 20 anos”, afirmou o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).

A agricultura atual “tem um nível, em Portugal e em Espanha, em termos da eficiência da rega, que é exemplo para o mundo inteiro”, argumentou Eduardo Oliveira e Sousa, que falava no 14.º Congresso da Água, em Évora.

Como exemplo, o responsável lembrou que, quando começou a trabalhar no Vale do Sorraia, “a média de utilização da água para um hectare de arroz ultrapassava os 20 mil metros cúbicos por hectare”, mas, hoje em dia, “a maior parte dos agricultores não gasta 10” mil metros cúbicos por hectare.

“O tomate gastava sete [mil metros cúbicos/hectare], hoje não são precisos quatro”, indicou, ao intervir numa mesa-redonda sobre a “Revisão da Diretiva-Quadro da Água e Novos Modelos de Gestão dos Recursos Hídricos”.

Por isso, atendendo a essa evolução, Eduardo Oliveira e Sousa alertou que “não há que ter medo dos agricultores como utilizadores de água”, porque “eles não vão estragar a água, não vão acabar com a água” e, pelo contrário, “em muitos locais, são a salvaguarda até da própria circulação de água”.

O Sorraia, no Ribatejo, evocou, “secava antes da obra de rega”, mas, “hoje em dia, é um fio de água permanente durante todo o verão”.

“Vivemos numa região que tem tendência em desertificar-se e ou salvaguardamos estas atividades, através do uso que a água nos potencia, ou o território terá tendência em entrar num ciclo de maior desertificação e de maior abandono”, disse Eduardo Oliveira e Sousa.

E “acidentes” como os incêndios do ano passado em Portugal, salientou, “replicar-se-ão no futuro, se esse abandono se vier a concretizar”.

A propósito da Diretiva-Quadro da Água (DQA), que é o principal instrumento da política da União Europeia (UE) relativa à água (em vigor desde 2000), o presidente da CAP deixou críticas e argumentou que “introduziu alguma perturbação na forma de lidar com setores maciçamente utilizadores de água, como é o caso da agricultura”.

Na transposição para o direito português das normativas comunitárias, em algumas situações, a administração foi “mais ‘papista do que o papa’, criando restrições, dificuldades à utilização dos recursos ou até do seu próprio armazenamento de uma forma um pouco desligada dos setores”, alegou.

O moderador da mesa-redonda, o antigo ministro do Ambiente Francisco Nunes Correia, considerou que a DQA, que se encontra “em processo de análise crítica e de revisão” no quadro da UE e dos Estados-Membros teve “excecional importância”, porque permitiu que a água deixasse de ser encarada “apenas do ponto de vista químico”, para adotar um olhar com “preocupações ecológicas” e, na diversidade europeia, numa ótica “integrada”.

O 14.º Congresso da Água, que hoje termina em Évora, foi promovido pela Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH).