No âmbito deste processo, o antigo presidente do Banco Espírito Santo Investimento (BESI) José Maria Ricciardi quando ouvido em tribunal tinha afirmado que foi Ricardo Salgado quem influenciou o antigo primeiro-ministro a levar Manuel Pinho para o seu Governo em 2005.

Agora, para o antigo primeiro-ministro José Sócrates, em declarações à saída de seu depoimento,"eu acho que não ficou pedra sobre pedra sobre essa 'mentirola' do MP sobre Ricardo Salgado. Todos sabem que tinha amigos na direita e não na esquerda. O doutor Ricardo Salgado financiou a campanha eleitoral de Cavaco Silva. Contratou o doutor Durão Barroso. Vocês [jornalistas] não falam nisso. Vocês falam agora ao fim de 12 anos", afirmou o antigo primeiro ministro.

"Esta ideia de Salgado ser amigo dos socialistas é falsa, é uma mentira. O MP pretendeu desenvolver isso contra mim, vendendo aos portugueses que Salgado era próximo de mim. Nunca tive o telefone, nunca estive no seu escritório, nunca o conheci. Só numa reunião no Ministério do Ambiente, três anos antes de ser primeiro-ministro. Pela primeira vez tive a oportunidade de dizer isso em tribunal", afirmou José Sócrates.

"A crítica a qualquer instituição pública deve ser vista como construtiva", disse Sócrates sobre as críticas à atual Procuradora Geral da República.

Em relação aos pagamentos a Manuel Pinho, Sócrates considera a pergunta insultuosa, mas afirma que "não sabia, mas fico satisfeito por saber que os pagamentos foram feitos através de um contrato anterior a Manuel Pinho ir para o governo. O mais importante aqui neste julgamento é o seguinte: o doutor Manuel Pinho recebeu algum dinheiro que não lhe era devido? A minha convição é de que não recebeu", afirmou Sócrates.

"O que está aqui em discussão é: será que o Governo prestou algum favorecimento indevido ao BES? Não, isso nunca aconteceu. Esta mentira do MP é propalado há doze anos. Há doze anos que o MP diz que houve um favorecimento ilegítimo à EDP. Este processo da EDP transformou-se num processo sem EDP. É escandaloso que o MP continue a investigar ao fim de doze anos. Com esse tempo, o MP transforma a presunção de inocência em presunção pública de culpabilidade. O MP tem um prazo para acabar o inquérito. Ao fim de doze anos não arranjaram nada, o Governo nunca beneficiou a EDP, isso é mentira", explicou Sócrates.

Este caso envolve o antigo ministro da Economia, entre 2005 e 2009, Manuel Pinho, que está em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, que responde em julgamento por um crime de corrupção passiva para ato ilícito, outro de corrupção passiva, um crime de branqueamento de capitais e um crime de fraude fiscal.

A sua mulher, Alexandra Pinho, será julgada por um crime de branqueamento e outro de fraude fiscal - em coautoria material com o marido -, enquanto o antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, vai a julgamento por um crime de corrupção ativa para ato ilícito, um crime de corrupção ativa e outro de branqueamento de capitais.

Inicialmente ligada à gestão da empresa elétrica e a alegados favores, a investigação arrancou em 2012 por causa dos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC). Em causa estavam suspeitas de corrupção e participação económica em negócio por parte dos antigos administradores António Mexia e Manso Neto para a manutenção do contrato das rendas excessivas, no qual, segundo o MP, teriam corrompido o ex-ministro Manuel Pinho.

No entanto, o MP acabou por separar em dezembro de 2022 os processos, ao centrar-se por agora nas suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais com dinheiros provenientes do Grupo Espírito Santo (GES) relativamente a Manuel Pinho, Alexandra Pinho e Ricardo Salgado.