A última semana foi das mais críticas para o BE devido ao caso de Ricardo Robles, que renunciou na segunda-feira ao lugar de vereador da Câmara de Lisboa, na sequência de uma notícia que dava conta da aquisição de um prédio em Alfama por 347 mil euros, que foi reabilitado e posto à venda em 2017, avaliado em 5,7 milhões de euros.

À agência Lusa, o politólogo António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, considerou que, “sob o ponto de vista da relação entre o partido e a sociedade, esta é a principal crise do Bloco de Esquerda de há muitos anos a esta parte”.

Também para André Azevedo Alves, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, este caso “é bastante grave para o BE”, sobretudo “pela natureza da conduta e pela contradição flagrante com o discurso” dos bloquistas.

“O que isto significa é que o BE começa a ter as naturais contradições de outros partidos políticos”, completou António Costa Pinto.

Para este politólogo, “se o que aconteceu com Ricardo Robles tivesse acontecido com um vereador do PS isto era um não problema”.

Este só é um caso político, defendeu, “porque se refere a um vereador de um partido com um discurso muito pronunciado” sobre o tema da especulação imobiliária.

Em relação os efeitos que este caso poderá ter nos resultados do BE nas eleições europeias e legislativas do próximo ano, os dois especialistas concordam que ainda é prematuro antecipa-los, realçando que “a memória do eleitorado muitas vezes é relativamente curta”.

Ainda assim, André Azevedo Alves antevê que, caso o BE perca eleitores, quem poderá beneficiar é o PS uma vez que “haverá mais eleitorado flutuante entre o PS e o BE do que com o PCP”.

“Poderá haver alguns ganhos também para o PAN porque poderá haver alguma sobreposição e algum eleitorado flutuante entre o Bloco e o PAN, apesar de ter menor expressão”, admitiu ainda.

António Costa Pinto partilha desta ideia de um possível benefício por parte do PS, mas avisou que eventuais impactos eleitorais do caso Robles “vão depender muito de três fatores”, o primeiro dos quais “a continuação da saliência mediática negativa” em relação a este acontecimento.

Em segundo lugar, continuou, é preciso saber “até que ponto este episódio não irá acirrar algumas tensões internas porque o BE ainda não é um partido tão unificado como os restantes partidos”, enquanto o terceiro fator prende-se com o “apoio a esta solução governativa”, que, na opinião do politólogo, “abriu uma grande incerteza sobre as atitudes eleitorais à esquerda”.

“O BE goza de muitos eleitores que já votaram PS e, portanto, esta crise pode fazer com que alguns eleitores do BE que já votaram PS achem que o BE está mais próximo, inclusivamente nas suas contradições, de partidos como o PS e pode eventualmente optar por votar nos socialistas”, considerou.

Apesar de a líder do BE, Catarina Martins ter vindo, entretanto, assumir o erro político da direção do BE por, numa primeira análise, ter considerado que Ricardo Robles teria condições de continuar o trabalho como vereador apesar da contradição, André Azevedo Alves sublinhou que “o que teria efetivamente minimizado os danos era a reação imediata da direção de que aquela conduta era incompatível”.

“Essa reação transfere o impacto negativo para o BE a nível nacional. Foi uma análise errada e um erro grave porque essa segunda parte é um custo político autoimposto”, criticou.

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