Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara de Castanheira de Pera, Fernando Lopes, explicou que a EN 236-1 é uma via que não pertence às competências do município.
"É bom que fique claro que nós não temos competências para exercer qualquer atividade ou fazer o que quer que seja em território que não está sob a nossa jurisdição. Naturalmente, não se fez nada, além de alertarmos as entidades competentes, neste caso a Infraestruturas de Portugal, para proceder a uma limpeza das bermas, não só por uma questão estética, mas por uma questão preventiva", apontou.
O fogo que deflagrou no sábado em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, alastrou a Figueiró dos Vinhos e a Castanheira de Pera, fazendo 64 mortos, a maioria em alguns metros da EN 236-1, entre Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera.
De acordo com o autarca de Castanheira de Pera, o seu concelho, tal como os concelhos vizinhos que foram atingidos pelas chamas, têm "uma debilidade financeira bastante grande", daí que só gastem dinheiro em ações de prevenção naquele que é o seu território.
"Abrimos estradões e quero lembrar que, no ano passado, tive durante mais de um ano inteiro a engenharia militar a fazer melhorias nas vias florestais municipais e a abrir outras vias florestais. Independentemente disso, ainda completámos a ação com o melhoramento de outras vias florestais por nossa conta e risco", descreveu.
Fernando Lopes disse ainda que o seu município preparou-se para os incêndios "colocando operacionais alguns pontos de água na floresta".
Para além destes tanques de água na floresta, o município de Castanheira de Pera procedeu ainda a outras medidas de prevenção, como é o caso das faixas de contenção.
"Fazemos alguns cortes na vegetação florestal, o que de alguma forma ajuda a travar em caso de incêndio. Temos também os vigias fixos e móveis, durante a época mais crítica, independentemente de procedermos a algumas queimadas de arbustos, essencialmente vegetação", acrescentou.
Segundo o autarca, também o Estado procede a algumas limpezas nas suas áreas de intervenção, evidenciando que a prevenção florestal deve ser uma tarefa de todos, inclusive do próprio produtor florestal.
"Se calhar, nunca fazemos aquilo que é o ideal, o ideal é sempre fazer mais qualquer coisa. Também temos de ter consciência que a floresta de hoje é completamente diferente da que tínhamos no passado", referiu.
No seu entender, a floresta de hoje só é produtiva e rentável se for bem explorada e tiver dimensão, pois "se for um cantinho o proprietário não retira rendimento suficiente para andar constantemente a limpar".
"Os produtores mais pequenos não limpam e isso é que é o grande problema. Quando falamos de floresta, tem de haver conjugação de vontades", admitiu.
A Lusa contactou a Infraestruturas de Portugal, que informou que a EN 236-1 "está sob a jurisdição da Ascendi".
Já a Ascendi explicou que a Ascendi Pinhal Interior tem sob sua responsabilidade a subconcessão que integra a EN 236-1, tendo a seu cargo as respetivas atividades de manutenção, conforme estipulado no contrato de subconcessão.
"No caso da EN 236-1, foi efetuada, entre 05 e 07 de junho passado, uma operação de limpeza da respetiva faixa de combustível", concluiu.
Dois grandes incêndios deflagraram no sábado na região Centro, provocando 64 mortos e mais de 200 feridos, tendo obrigado à mobilização de mais de dois milhares de operacionais.
Estes incêndios, que deflagraram nos concelhos de Pedrógão Grande e Góis, consumiram um total de cerca de 50 mil hectares de floresta [o equivalente a 50 mil campos de futebol] e obrigaram à evacuação de dezenas de aldeias.
As chamas chegaram ainda aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra, mas o fogo foi dado como dominado na quarta-feira à tarde.
O incêndio que teve início no concelho de Góis, no distrito de Coimbra, atingiu também Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais. Ficou dominado na manhã de quinta-feira.
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