A antiga provedora da Casa Pia de Lisboa Catalina Pestana morreu aos 72 anos num hospital em Lisboa, vítima de doença, confirmou no sábado o advogado da instituição à agência Lusa.

Pedro Strecht, pedopsiquiatra que chefiou um gabinete de apoio às vítimas da Casa Pia, escreveu uma carta de homenagem a Catalina Pestana, com quem trabalhou durante "a horrível e tenebrosa viagem de anos a fio a que chamaram Processo Casa Pia".

"O que mais recordarei de si foi, é, a coragem. A frontalidade. A certeza de que quem procura e defende a verdade nada tem a temer. Depois de si, um pouco de Portugal mudou", elogiou.

Para Pedro Strecht, devido à dedicação da antiga provedora da Casa Pia de Lisboa "nada no domínio da proteção à infância e à adolescência ficou igual, como dantes".

"Sabemos o que conseguimos. Dar voz a quem não a tinha. Quebrar ciclos de silêncio, de medo e vergonha. Ver ganha uma longa batalha jurídica onde muitos ficaram de fora (sabemos bem disso?) e tudo foi feito para atacar, denegrir, amedrontar dezenas de vítimas em desamparo", destacou.

Durante todo o processo, o médico defendeu a credibilidade dos testemunhos das vítimas, precisamente um dos aspetos mais atacados pelos advogados dos arguidos.

Catalina Pestana foi nomeada em 2002 pelo Ministério da Segurança Social e do Trabalho, na altura tutelado por Bagão Félix, provedora da Casa Pia e era uma das vozes de defesa das vítimas do processo de pedofilia que abalou a instituição.

Permaneceu à frente da instituição até maio de 2007, quando o julgamento do caso Casa Pia ainda decorria.

Nascida em 5 de maio de 1947, viveu no Barreiro e fez o liceu em Setúbal, antes de ir estudar Filosofia para a Universidade de Letras de Lisboa.

Em 1975, assumiu a direção do Colégio de Santa Catarina, em Lisboa, funções que exerceu durante cerca de doze anos, até 1987. Depois, começou a dar aulas de Análise Sócio-Histórica da Educação na Faculdade de Motricidade Humana.