“Vejo com muita apreensão o que se está a passar [em Espanha]”, afirmou Manuel Alegre, que considera que o conflito entre Barcelona e Madrid “está a ser mal gerido por todos", quer pelo líder do governo regional destituído, Carles Puigdemont, quer pelo chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy, "até porque ele tem uma certa herança franquista apesar da linguagem legalista”.
O socialista, que falava no festival literário de Óbidos, apontou que não houve “diálogo” nem “bom senso” em relação à pretensão de independência da Catalunha, uma das "regiões mais ricas de Espanha, que tem de facto um sentimento nacional profundo, uma língua própria e uma cultura própria, embora nunca tenha tido estado”.
Sem defender a independência da Catalunha, Alegre afirmou que "o que será bom para Espanha será a existência de um estado federal" e admitiu ver “com muita apreensão” a dissolução do parlamento regional catalão.
“Dissolveram o parlamento, demitiram os dirigentes catalães, mas como é que aquilo se vai fazer, eles estão lá, a praça está cheia, vai a Guardia Civil metralhar o povo todo?”, questionou.
Apesar de não defender a independência da região, Manuel Alegre considera que "se a Catalunha fosse independente tinha tanto direito a estar na Europa como têm outros”, referindo-se à União Europeia.
O escritor acrescentou que “a Europa, a NATO e outros países apoiaram a entrada do Kosovo, que tinha muito menos razão de ser do que a Catalunha”.
O parlamento regional da Catalunha aprovou na sexta-feira a independência da região, numa votação sem a presença da oposição, que abandonou a assembleia e deixou bandeiras espanholas nos lugares que ocupavam.
Quase ao mesmo tempo, em Madrid, o Senado aprovava a intervenção na autonomia catalã, tendo o Governo espanhol reunido em seguida para aprovar as medidas para restituir a legalidade institucional na região.
O Governo central anunciou ao fim do dia de sexta-feira a dissolução do parlamento regional, a realização de eleições em 21 de dezembro próximo e a destituição de todo o Governo catalão, entre outras medidas.
Manuel Alegre falava em Óbidos, numa mesa de autores no âmbito do Folio – Festival Literário Internacional que decorre na vila até domingo.
O festival desenvolve-se em cinco capítulos - Autores, Folia, Educa, Ilustra e Folio Mais e terá hoje, como ponto alto, uma mesa que junta os humoristas Ricardo Araújo Pereira e Gregório Duvivier.
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