No início da manhã, uma multidão de fiéis, alguns deles transportando os estandartes da sua diocese, preparavam-se para a primeira missa. "Viemos rezar pela paz em todo o mundo, que parece estar afundada no caos", disse Piet Tarappa, um empresário indonésio que chegou de Jacarta com um grupo de 35 peregrinos acompanhados por um bispo.

Sob um sol escaldante, cerca de 500 polícias e militares patrulhavam o local, após a implementação de um dispositivo excepcional depois do massacre de 14 de julho em Nice, que deixou 85 mortos, e o assassinato em 26 de julho do sacerdote Jacques Hamel, de 85 anos, degolado em plena missa numa igreja da Normandia.

No céu um helicóptero sobrevoava o local onde cerca de 22 mil fiéis se reuniram. "Acredito que é importante que os soldados estejam aqui caso algo aconteça", afirmou Leila Bousbaa, uma peregrina inglesa de 21 anos. A missa ao ar livre, organizada na pradaria situada fora do santuário, comemora a Assunção, que segundo o dogma católico celebra a ascensão ao céu da Virgem Maria.

Lionel Ambroise, um engenheiro francês de 29 anos que vive em Bruxelas, disse que foi ao local para agradecer à virgem pelo seu casamento e também para "refletir sobre o mundo e sobre a França, em especial pela crise que atravessa".

O cardeal e arcebispo de Lyon,Philippe Barbarin, uma das personalidades mais influentes da Igreja francesa, presidiu a uma das cerimónias, cujo tema central foi a misericórdia. Durante o sermão, disse estar a pensar "na França, atingida por tanto sofrimento nos últimos meses desde janeiro de 2015 (atentados contra a revista Charlie Hebdo e um supermercado kosher) e abalada cruelmente novamente no mês passado".

O presidente da Conferência Episcopal, Georges Pontier, convocou os fiéis a "rezar pela França". Também os convidou a "reunirem-se nas igrejas" e a "acender velas" em homenagem a Jacques Hamel. "Os católicos não faltarão ao evento", afirmou na sexta-feira Vincent Neymon, diretor de comunicação da Conferência Episcopal, que destacou o "contexto difícil" e a "tensão no país". No entanto, Neymon sublinhou que esta oração não é "política" e que é "um momento de reunião".

"Solidariedade"

Outra cerimónia, na gruta de Massabielle, durante a tarde, irá celebrar a aparição da virgem no local à pastora Bernadette Soubirous em 1858. "A oração terá um tom particular neste ano", disse Nicolas Brouwet, bispo de Tarbes-Lourdes. "No fundo, nós percebemos que o nosso país é o alvo, não apenas a igreja católica".

Na Normandia, a cerimónia foi especialmente emocionante. Ali, o arcebispo de Rouen lembrou o padre morto. "A França atravessa provações, a nossa diocese atravessa provações", declarou, advertindo os fiéis a lutar contra a tentação de cortar a fraternidade e ceder à ira contra os muçulmanos.

Após o ataque, registado pouco depois do atentado de Nice, muitos muçulmanos foram às igrejas expressar a sua solidariedade aos seus "irmãos" cristãos e a sua rejeição do terrorismo.

O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve,depois de inspecionar o dispositivo de segurança, expressou no sábado a sua "solidariedade" aos católicos e a sua "gratidão" e "reconhecimento pelo discurso extremamente responsável que os bispos adotaram" após o atentado de 26 de julho.

Enquanto isso, a presidência francesa anunciou que François Hollande será recebido na próxima quarta-feira no Vaticano pelo papa Francisco para falar, entre outros temas, das consequências do assassinato de Hamel.

Segundo uma sondagem recente, cerca de 65% dos franceses declararam-se católicos em 2010, mas apenas 7% vão à missa pelo menos uma vez por semana. Além das celebrações religiosas, há muitos eventos festivos programados para esta segunda-feira em França, incluindo danças populares, fogos de artifício e festas culturais, mas alguns foram cancelados por motivos de segurança.