Em declarações à agência Lusa, Marques Mendes – que foi ministro adjunto de Cavaco Silva no XII Governo Constitucional – falou sobre o fim do mandato do Presidente da República, considerando que se trata de “terminar uma carreira política histórica” porque nunca ninguém em Portugal esteve dez anos como primeiro-ministro e dez anos na Presidência, sendo “irrepetível” as quatro vitórias com maioria absoluta que alcançou.

Na opinião do ex-líder do PSD, os dois mandatos de Cavaco Silva em Belém foram diferentes, sendo o primeiro “iminentemente de cooperação estratégica com o Governo e com os demais órgãos de soberania” e, portanto, “virtuoso e profícuo”.

“O segundo mandato é bastante diferente e sobretudo mais difícil. Qual é a grande explicação? É o facto de estarmos num período de resgate”, defendeu, avaliando, apesar de tudo, como “um balanço positivo”.

Marques Mendes destacou três pontos deste segundo mandato do Presidente da República, começando por recordar “um momento menos feliz” de Cavaco Silva que são as declarações sobre as questões das pensões”.

Outro dos destaques é a preocupação do chefe de Estado, sobretudo em 2013, “de tentar consensos entre a oposição e Governo”, vaticinando que Cavaco Silva, apesar de não ter conseguido, “vai ter razão no futuro”.

“Em alguns momentos Cavaco Silva impediu, evitou a existência de crises políticas, crises de Governo que poderiam dar uma perturbação imensa e acrescentar dificuldades às dificuldades que o país já tinha”, enalteceu.

Para o comentador político, não se pode comparar aquilo que foi Cavaco Silva como primeiro-ministro e como Presidente da República, considerando que teve “virtualidades e falhas” no desempenho das ambas as funções, mas destacando “um sentido de responsabilidade” como “uma marca consensual na sua atuação”.

“Como primeiro-ministro eu julgo que Cavaco Silva presidiu ao Governo que fez a maior mudança estrutural na sociedade portuguesa. Cavaco Silva é talvez o primeiro-ministro mais marcante da democracia portuguesa”, disse.

Sobre os motivos para a baixa popularidade com que Cavaco Silva sai a 09 de março de Belém, Marques Mendes aponta, por um lado, as falhas na atuação e, por outro, “um sentimento de cansaço”, uma vez que “todos os Presidentes da República, nos segundos mandatos evidenciam sinais de fadiga, de saturação e de cansaço”.

“É sobretudo um período que não pode ser comparável nem com Jorge Sampaio, nem com Mário Soares, nem com Ramalho Eanes porque é um período em que Portugal tinha perdido autonomia. Governar ou presidir ao país num tempo de resgate é completamente diferente de o fazer num tempo normal”, defendeu.