"Se este Governo e os partidos que o suportam já só pensam nas próximas eleições, então Portugal não pode ficar à espera", afirmou Assunção Cristas numa conferência de imprensa, na sede nacional do partido, em Lisboa.
Para a líder centrista, "até a base de apoio parlamentar, que tem assegurado a sobrevivência deste executivo começa, indisfarçavelmente, a abanar", numa referência ao PCP, BE e PEV, que "uns dias apoiam" e "outros dias criticam o executivo".
"Se a preocupação central do PS é a propaganda eleitoral, prometendo agora tudo o que não fez ao longo de quase quatro anos, a própria remodelação já não é um exercício de governação, mas uma mera conveniência eleitoral e de propaganda que nada acrescenta, nós não ficaremos à espera", afirmou.
Numa comunicação que visou quase sempre diretamente António Costa ou o seu executivo, a líder do CDS foi apresentando os problemas que considerou estarem a afetar o país e que, ao mesmo tempo, o governo não consegue resolver, por estar preso "às ideologias radicais que dos parceiros que lhe permitem manter o poder".
"Preocupado com a sobrevivência, o primeiro-ministro colocou o partido à frente do país. Prometeu tudo a todos, prometeu a paz social enquanto havia dinheiro. Empurrou os problemas com a barriga com a esperança que o tempo os resolvesse", disse Assunção Cristas.
Cristas indicou ainda que "Portugal ficou com investimento público em mínimos históricos", afirmando que "este é o tempo do governo dos serviços mínimos e da carga fiscal máxima" e de um "ilusionismo socialista", enquanto a contestação social não para de crescer.
Neste sentido, o "caso" mais gritante que está acontecer, considera Cristas, "é o da área da saúde". Pois, ainda que um "esforço de todos os profissionais, o SNS [Serviço Nacional de Saúde] não dá resposta quando o doente no Hospital de Vila Real tem de esperar mais de 4 anos por uma consulta de urologia", disse. "Não podemos deixar passar que um doente tenha que levar lençóis de casa quando esses mesmos lençóis também de servir de toalhas", acrescentou.
Depois, anunciou que todo este período de governação do executivo "foi uma oportunidade perdida". Isto, porque "o governo falha às pessoas, falha na dimensão social, falha no investimento e na economia, falha na soberania e proteção dos portugueses. E não nos esquecemos dos roubos de armas de Tancos que aconteceram sem que se conheçam responsabilidades políticas", afirmou.
A centrista rematou também que "o país está a pagar o preço das promessas que [António Costa] fez" e que "vários setores do país desesperam com a arrogância e falta de diálogo do executivo", sublinhando que o "futuro não pode ser adiado".
Assunção Cristas também considera que "governo está esgotado, bloqueado e com um primeiro-ministro desorientado".
Levantada a questão se podia ou não sair enfraquecida desta moção de censura, Cristas respondeu que prefere ir já para eleições "do que termos oito meses de campanha de um Governo que já não governa".
O calendário escolhido foi explicado pelo facto de, constitucionalmente, não ser possível apresentar uma moção de censura nos seis meses anteriores ao fim da legislatura, ou seja, no mês de maio, e por o CDS ter a sua própria agenda.
Se fosse aprovada implicaria a queda do Governo e a convocação de legislativas antecipadas, que poderiam coincidir com as eleições europeias, já agendadas para 26 de maio, sublinhou a presidente e deputada do CDS.
Questionada se a iniciativa da censura ao Governo ser anunciada na véspera de duas convenções, uma do PS e outra do PSD, seria para pôr o CDS "na agenda" do fim de semana político, Cristas recusou a ideia com o argumento de ter um calendário próprio.
E quanto a poder ser de eleitoralismo com esta iniciativa, Assunção Cristas recordou que não é possível apresentar uma moção de censura nos seis meses anteriores ao fim da legislatura.
O texto da moção de censura - três páginas e meia de argumentos - será entregue ainda hoje na mesa da Assembleia da República.
Líder do CDS desafia partidos a clarificarem posições e avisou Presidente de moção de censura
A líder do CDS desafiou os partidos políticos, incluindo o PSD, a clarificar posições quanto ao Governo no debate da moção de censura, que hoje anunciou, e disse ter informado o Presidente da República desta iniciativa.
Este é um "momento de clarificação para todas as forças partidárias", como PCP, BE e PEV, que apoiam o executivo, mas também para o PSD, admitindo que o CDS não tem medo de "ficar sozinho" no momento da votação da moção porque "tem liderado a oposição ao governo das esquerda unidas".
E quanto às expetativas do voto do PSD, partido que apoiou a moção centrista apresentada em 2017, pouco disse, a não ser que "cada um fará a sua análise".
Assunção Cristas garantiu ainda que informou previamente o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, antes de anunciar a apresentação da moção de censura.
"Dei nota ao Presidente da República desta iniciativa", afirmou, sem adiantar mais do que falou com o chefe do Estado, que tem defendido o princípio da estabilidade, e a quem, há uma semana, pediu que interviesse e mediasse o conflito entre o Governo e os enfermeiros em greve.
É a segunda vez que o CDS faz uso deste instrumento
O regimento da Assembleia da República prevê, no seu artigo 222.º que o debate da moção de censura “inicia-se no terceiro dia parlamentar subsequente à apresentação da moção de censura”.
Todavia, a moção de censura ao Governo, hoje anunciada pela líder do CDS, vai ser discutida no parlamento na quarta-feira, disse à Lusa fonte da direção da bancada centrista.
A última moção de censura a ser discutida no parlamento foi também apresentada pelo CDS há ano e meio, em 24 de outubro de 2017, centrada nas falhas do Estado no combate aos grandes incêndios desse ano.
A moção foi rejeitada com 122 votos contra, do PS, PCP, BE, PEV e do deputado do PAN, e 105 votos favoráveis, do CDS-PP e do PSD.
Esta será a segunda moção de censura ao Governo minoritário do PS, chefiado por António Costa, e a 30.ª em 45 anos de democracia, após o 25 de abril.
Para ser aprovada, a moção tem que obter 116 votos. PS e os outros partidos de esquerda (PCP, BE e PEV) tem maioria na Assembleia da República.
* Com agências. Notícia atualizada às 18:01
Comentários