"Não senti que a falta de condições políticas que o Filipe Lobo D'Ávila teve e que condicionou a decisão dele de saída do parlamento não se verificasse comigo. Há também uma questão profissional que é uma razão política também: é importante para mim cumprir com os meus compromissos profissionais para manter total liberdade e não sentir, nalgum ponto, que estou dependente de um cargo político", defendeu à Lusa Raúl de Almeida.
Nas listas da coligação PSD/CDS-PP, por Lisboa, nas legislativas de 2015, Raúl de Almeida era o nome centrista que se seguia ao de Lobo D'Ávila, aparecendo, depois, a histórica militante Orísia Roque e João Gonçalves Pereira, líder da distrital de Lisboa e vereador na câmara da capital.
"Estando na política a longo prazo é importante manter esta independência relativamente ao exercício de cargos políticos. É também um sinal que pode fazer pedagogia numa altura em que há uma perceção generalizada de que os políticos dependem dos cargos, haver políticos que preservam mais a liberdade política do que o exercício do cargo", defendeu Raúl de Almeida.
O antigo deputado eleito por Aveiro, que tem sido, com Filipe Lobo D'Ávila, crítico da liderança de Assunção Cristas, disse que a presidente do partido não falou consigo, tendo, por outro lado, tido uma "conversa e aberta" com o líder parlamentar, Nuno Magalhães.
"Não me surpreende que o presidente do grupo parlamentar tenha falado e não me surpreende também que a presidente do partido não tenha falado", disse.
Para Raúl de Almeida, a opção de não assumir agora o mandato de deputado preserva a sua "liberdade em relação ao futuro" e à possibilidade de "voltar a desempenhar as funções" que teve "muita honra" de exercer no passado, "assim tenha condições".
"Tendo sido eu crítico da colonização de lugares elegíveis para Lisboa que Paulo Portas fez nas últimas eleições, aceitei ainda assim integrar a lista de Lisboa como um símbolo de inequívoca lealdade política para a coligação que governava o país e que viria a ganhar as eleições, sinto que há uma coerência acrescida em libertar este lugar para pessoas que são de Lisboa", argumentou.
Tanto Orísia Roque, como João Gonçalves Pereira têm atividade política e autárquica na capital.
Filipe Lobo D'Ávila deixa o parlamento na sexta-feira, tendo-se despedido na quarta-feira com um discurso, que realizou com o tempo individual que os deputados dispõem, em que garantiu que não abandona a vida política, nem o seu partido.
"Saio do parlamento, mas não deixo a vida política, não abandono o meu partido e não abdico da vontade de participar num Portugal melhor", afirmou.
Lobo D'Ávila recusou despedidas e assinalou que o futuro "só Deus sabe".
"Não há despedidas porque eu não quero, porque sei que há muitos que não queriam, porque também não tenho idade, verdadeiramente, e porque nunca, nunca, se desiste. Hoje há apenas agradecimento por tudo e a consciência de que do futuro só Deus sabe", declarou.
Filipe Lobo D'Ávila tem sido, desde o Congresso de Gondomar, em que Assunção Cristas foi eleita líder do CDS-PP pela primeira vez, em 2016, uma voz crítica da direção centrista, encabeçando listas alternativas ao Conselho Nacional, o órgão máximo do partido entre congressos.
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