“[Abel Matos Santos] teve sempre a confiança política de todas as lideranças até agora, já situou [as declarações] e pediu desculpa por aquilo que disse. Não valerá muito a pena estarmos aqui a acrescentar grandes pontos ao conto, porque este conto não tem grandes pontos para se lhe acrescentar”, afirmou à agência Lusa Sílvio Cervan.

O ex-vice-presidente do CDS-PP António Pires de Lima exigiu hoje ao novo líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, que “retire a confiança política” ao dirigente Abel Matos Santos, dada a "gravidade das declarações" que fez sobre Salazar e Aristides Sousa Mendes.

Abel Matos Santos, da Tendência Esperança em Movimento (TEM), e eleito para a comissão executiva do CDS, defendeu, de 2012 a 2015, várias posições, em que elogiou Salazar e a PIDE e apelidou de “agiota dos judeus” o cônsul de Portugal em Bordéus Aristides Sousa Mendes, que ajudou a salvar milhares de judeus durante a II Guerra Mundial.

Matos Santos reagiu à polémica, sem negar a autoria das frases, e ao semanário Expresso afirmou que “expurgar frases desses textos e descontextualizá-las não é um exercício sério”.

O vice-presidente Sílvio Cervan garantiu que o partido está “sempre ao lado das liberdades individuais e, portanto, [desrespeitar esses princípios] é uma linha vermelha que nunca ninguém no CDS jamais pisará, sob pena de deixar de ser do CDS”.

Em comunicado divulgado hoje, a comissão executiva dos democratas-cristãos explicita que no partido “não há espaço para o racismo, para a xenofobia, para o antissemitismo, para a intolerância ou para qualquer saudosismo de regimes que não assentem na liberdade”.

A nota emitida acrescenta que o CDS repudia, “com veemência, qualquer afirmação passada, presente ou futura” que se afaste da matriz do partido e que precisa de “se reconciliar com o seu passado, de incluir e de somar com todos os seus militantes e sensibilidades, e de saber agregar, numa proposta mobilizadora para os portugueses, as correntes de pensamento que o compõem”.

Os democratas-cristãos referem igualmente que Abel Matos Santos “é também um reflexo” do espírito de “unidade, compromisso e pluralismo” do CDS-PP, e que o ex-vice-presidente “fundou e liderou uma tendência interna do partido, cuja carta de princípios expressamente reconhece ‘os princípios gerais do Estado de direito’”.

“É tempo de seguir em frente e de não permitir que os equívocos e mal-entendidos do passado nos comprometam o futuro”, finaliza o comunicado.