Centenas de pessoas arrancaram do Largo Camões em Lisboa a entoar que o povo merece mais Serviço Nacional de Saúde (SNS), em direção à Assembleia da República. A manifestação foi convocada por um movimento que pretende provocar um sobressalto cívico em defesa do acesso à saúde.
No centro da praça, em cima de uma carrinha de caixa aberta, deram-se intervenções e momentos musicais. Isabel do Carmo, médica endocrinologista, criticou o discurso político em relação ao SNS que se centra na gestão, e defendeu que "é possível salvar o SNS". O início da subida em direção ao parlamento fez-se ao som de bombos e palavras de ordem em uníssono.
Apelando aos portugueses "que precisam do SNS, porque quem é do privado e quem tem os seguros, que são as pessoas com condições financeiras, esses não estão aqui", defenderam que é preciso mais do que "descansar na cadeira, acusar os políticos e ficar à espera que as coisas aconteçam".
Mário Januário, dirigente da associação Ur’Gente, de utentes do SNS do concelho de Porto de Mós, que nunca foi de “andar em manifestações”, viu-se ‘forçado’ a vir a Lisboa para alertar que no seu concelho mais de metade das pessoas não tem médico de família e que há idosos “a fazer madrugadas” para conseguir consulta no centro de saúde.
Também a Ordem dos Médicos se tem mostrado preocupada com a saúde, não só ao nível da proposta do Governo para os novos estatutos, mas também da falta de vacinas.
Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, defendeu que a "missão dos médicos, o papel dos médicos, como embaixadores das boas práticas, de uma boa medicina, de bons cuidados de saúde, podem estar postos em causa com os princípios dos estatutos".
E considerou ainda "completamente incompreensível e inexplicável" a falta de vacinas. Para o bastonário, demonstra "alguma negligência no tratamento desta questão" por parte das entidades responsáveis.
Na sexta-feira, o semanário Expresso noticiou que a vacinação gratuita, sobretudo de recém-nascidos e crianças, está a ser feita a ‘conta-gotas’, adiantando que durante este ano ainda não foram compradas as vacinas necessárias e os centros de saúde estão a utilizar doses que sobraram do abastecimento anterior, sucedendo-se os relatos de falhas na imunização por todo o país.
António Costa assumiu a prioridade de alargar horários e recursos dos centros de saúde, remetendo para todos os que já tiveram ou têm crianças e sabem que uma das razões para ir às urgências hospitalares é porque não há um "centro de saúde aberto à hora" necessária.
De acordo com o primeiro-ministro, as alterações no SNS já se fazem sentir, mas é preciso dar um "segundo passo, que tem a ver com a evolução para o regime da dedicação plena das carreiras médicas nos cuidados de saúde primários e também nos cuidados hospitalares".
Já Manuel Pizarro, garantiu que o Governo está a trabalhar "em soluções para contornar o problema" dos internamentos sociais nos hospitais portugueses que, de acordo com o sétimo Barómetro de Internamentos Sociais, aumentaram 60% e ocupam 1.675 camas nos hospitais.
"Temos procurado soluções no setor social que permitam agilizar essas altas. Temos mais 700 vagas, mas continuam a não ser suficientes porque temos uma grande preocupação com a qualidade desses espaços. Espero que já no próximo inverno possamos dar uma ainda melhor resposta”, concluiu.
*Com Lusa
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