A fuga dos populares, a pé e famílias inteiras conforme documentado também por vários vídeos confirmados pela Lusa, acontece desde segunda-feira e envolve moradores de Mazeze, Chiúre-Velho, Mahipa, Alaca, Nacoja B, Nacussa, que abandonaram as respetivas aldeias percorrendo mais de 20 quilómetros ao longo da estrada Nacional (N1), até atravessar o rio Lúrio, fronteira com a província de Nampula, à procura do refúgio no distrito de Eráti (Namapa).
“A minha mãe está em Namapa, com seis filhos. Tive de lhe mandar dinheiro pelo menos para comprar de comer”, disse hoje uma fonte a partir da cidade de Pemba, enquanto aguardava notícias da família.
O distrito de Chiúre, sul de Cabo Delgado, tem sido alvo de vários ataques nos últimos dias e a população começou a partir em direção a Nampula.
“Estou no grupo. As coisas não estão bem, entraram em Alaca, não queimaram casas, mas estragaram culturas nas nossas machambas [terrenos cultivados]” relatou uma mulher de 57 anos, a partir de Namapa, já em Nampula.
Nesta onda de ataques, um camião-cisterna carregado de combustível, com destino à cidade de Pemba, foi queimado por volta das 16:00 (14:00 em Lisboa) de terça-feira, pelos terroristas, na comunidade de Mahipa, ao longo da estrada EN1, pertencente ao posto administrativo de Ocua, em Chiúre.
“Mandaram parar e de seguida obrigaram o motorista a descer, queimaram o camião e puseram-se em fuga. O bom é que não mataram o motorista” disse uma fonte da comunidade, garantindo que a vítima foi prontamente socorrida.
“Conseguiu boleia, mas vai precisar de assistência psicológica, não é fácil deparar-se com esses bandidos”, concluiu.
Ao fim da tarde de terça-feira era notória a movimentação das Forças de Defesa e Segurança para a zona de Ocua, numa aparente tentativa de restituição da ordem em Chiúre.
“Carros e carros, para lá foi muita força, acredito que, pode ser um sinal bom para retornarmos às nossas casas”, afirmou uma mulher de 67 anos, já em Namapa.
Na noite de terça-feira, em diversos pontos das matas do posto administrativo de Ocua, os populares relataram rajadas de tiros.
“Foi de ter medo. Na minha aldeia ouvi muito barulho de armas”, disse uma fonte a partir da comunidade de Alaca, no interior de Ocua.
Nas últimas semanas têm sido relatados casos de ataques de grupos insurgentes em várias aldeias e estradas de Cabo Delgado, inclusive com abordagens a viaturas, rapto de motoristas e exigência de dinheiro para a população circular em algumas vias.
O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou na semana passada a autoria de um ataque terrorista em Macomia, em Cabo Delgado, e a morte de pelo menos 20 pessoas. Tratou-se de um dos mais violentos ataques em vários meses.
Através de canais de propaganda, o grupo terrorista documentou o ataque a uma posição das forças armadas moçambicanas, levando material bélico, e reivindicou ainda outro ataque em Chiúre.
Também na semana passada foi confirmado o ataque, reivindicado pelo EI, no distrito de Chiúre, com a destruição de várias infraestruturas e igrejas.
O alvo foi a sede do posto administrativo de Mazeze, no interior do distrito de Chiúre, onde os rebeldes atearam fogo ao hospital, à secretaria do posto administrativo e à residência da chefe do posto administrativo, avançou o administrador distrital de Chiúre.
“As infraestruturas estão basicamente destruídas”, disse Oliveira Amimo, acrescentando que os rebeldes destruíram a capela pertencente à Igreja Católica.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos alguns ataques reivindicados pelo EI, o que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos do gás.
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