Autarcas e surfistas temem que o pontão de 300 metros previsto pela Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) venha comprometer “a qualidade da onda” de Matosinhos e, por arrasto, a economia turística do município.

“O Porto de Leixões, naturalmente, tem uma importância determinante na estratégia económica nacional e internacional, mas tem de ser aliada a um equilíbrio ambiental”, disse à agência Lusa Pedro Sousa, presidente da Junta de Freguesia de Matosinhos e Leça da Palmeira.

Para o autarca, a extensão do quebra-mar do Porto de Leixões poderá “provocar danos muito sérios, desde logo com a deslocalização dos sedimentos de sul para norte, o que poderá fazer com que a praia desapareça”, além de poder provocar a estagnação e consequente contaminação da água do mar.

Pedro Sousa indicou, ainda, que “vários estudos apontam para que a economia ligada ao surf tenha um retorno superior a 20 milhões de euros, com mais de 200 mil visitas anuais” às praias de Matosinhos, o que as coloca num nível que “compete com as praias da Califórnia ou da Austrália” e que ficaria comprometido com a construção do pontão de quebra-mar.

Para Manuel Rui, “uma das primeiras pessoas a fazer surf na praia de Matosinhos”, a construção do paredão poderá “impossibilitar a prática da modalidade e de tudo o que esteja ligado ao turismo”.

“Toda a zona envolvente da praia poderá desaparecer, porque isto vai ficar praticamente um lago”, disse à Lusa, rodeado de outros surfistas no cordão humano que se estendia já por toda a Praia de Matosinhos.

O surfista lamentou que “a ideia seja tirar a ondulação de uma das principais praias para o ensino do surf na zona Norte” do país.

Segundo João Castro, engenheiro no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), que emitiu um parecer técnico de impacto ambiental da possível obra, “as pessoas não têm noção do impacto que isto vai ter”.

“Segundo estudos técnicos, vai haver uma erosão na zona sul (da Praia de Matosinhos), porque a ondulação vai entrar de lado”, disse à imprensa o engenheiro civil, que é também representante da associação SOS – Salvem o Surf, concluindo ainda que “a agitação marítima (…) vai diminuir em cerca de 40 por cento”.

Professora no Marco de Canaveses e surfista habitual em Matosinhos, Ana Neves disse preocupar-se, sobretudo, com a questão ambiental, na medida em que “Matosinhos sofre já há muito tempo com uma pressão tremenda em termos ambientais e urbanos. Com a extensão do paredão em 300 metros, o que é um absurdo, a qualidade da água vai-se tornar ainda mais preocupante”, afirmou.

“Como surfista, é inevitável dizer que vamos perder uma das melhores ondas, principalmente para a aprendizagem do surf, que o país tem para oferecer”, lamentou.