“Há alguns anos atrás este era um dia que as pessoas assinalavam a nível internacional”, disse à agência Lusa Danilo Moreira, um dos membros da organização do protesto, “Mundo contra o Racismo”, advertindo que com o crescimento da extrema-direita a nível internacional “tornam-se mais descarados” os atos discriminatórios, racistas, homofóbicos e xenófobos.
Na manifestação, que decorreu no Largo de São Domingos, junto ao Rossio, em Lisboa, e que se iniciou ao som da “Cantiga é uma Arma”, de José Mário Branco, os manifestantes entoaram palavras de ordem como “o racismo não passará. Antirracistas sempre!” ou “25 de abril sempre. Fascismo nunca mais!”.
Além disso, agitavam bandeiras onde se lia “Em luta” e empunhavam cartazes com expressões, desde “Descolonizar o ensino” à “Violência policial mata!”.
Danilo Moreira disse ainda à Lusa que estavam ali numa ação de protesto porque os governos e, Portugal não era exceção, “não estavam a dar respostas para tratar da inclusão e acabar com a questão das descriminações”.
Em Portugal, os estudos étnico raciais “ainda estão por fazer”, lamentou o ativista, que falou também das situações da lei da nacionalidade que “estão por resolver”, além de outros problemas que afetam sobretudo as pessoas vitimas de racismo, o qual tem “repercussões a nível laboral, habitacional e social”.
O ativista reconheceu, no entanto, que tem havido algumas melhorias, mas as que têm surgido têm sido na sequência de protestos, caso da lei da nacionalidade que “foi melhorada” depois de “uma petição e de protestos”.
E prosseguiu: “Não tem sido de livre e espontânea vontade, por iniciativa do próprio Governo, seja o atual sejam os anteriores, mas devido à mobilização das organizações da sociedade civil e pessoas singulares que se juntam à luta para fazer pressão para que hajam melhorias”.
“Se não houver pressão nas ruas, pressão através de petições, enfim, uma série de conjuntos de combinações provenientes das organizações da sociedade civil, temos plena consciência de que as soluções do Estado não vão satisfazer a comunidade mais racializada (alvo de ataques racistas)”, salientou.
Sobre o crescimento da extrema-direita em Portugal disse à Lusa que se tem “estado a assistir, sobretudo no último ano, a discursos de ódio que não são liberdade de expressão, mas sim são palavras que devem ser abominadas e exterminadas na sua totalidade”.
Piménio Ferreira, membro do SOS Racismo, por sua vez, disse à Lusa que “enquanto houver violências vão estar na rua” para “impedir e dizer não e estar contra”.
O ativista defendeu ainda uma luta por uma sociedade “mais saudável, com um modelo de sociedade sem este estrato social hierárquico em que Portugal vive há mais de cinco séculos”.
“Uma sociedade plural, não no sentido de que somos pessoas diferentes — obviamente também somos — mas porque a sociedade é assim”, realçou, adiantando que “a sociedade são pessoas”.
“Nós não merecemos ser atirados para um lado marginal, como eles nos dizem, que não é tão marginal quanto isso, tem a sua estrutura, e não merecemos sofrer violências coloniais que duram até aos dias de hoje e ninguém merece estar sujeito a um domínio de dominação seja ele racista, capitalista ou patriarcal”, frisou o ativista da SOS Racismo.
Em Portugal, o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial é assinalado com manifestações em Lisboa, no Largo de São Domingos, e no Porto, na Praça dos Poveiros.
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