Em conferência de imprensa hoje, em Cartum, capital do Sudão, os partidos políticos declaram conjuntamente que a situação só pode mudar “ao estabelecer um novo regime no país” para que se possa ganhar “a confiança do povo sudanês”.

As manifestações registadas em várias cidades, incluindo a capital Cartum, e que começaram após um aumento do preço do pão em dezembro passado, passando de uma libra sudanesa (um centavo de euro) para três libras em plena crise económica, transformaram-se num movimento contra o regime do presidente Bashir, que chegou ao em 1989, através de um golpe de Estado.

Durante os primeiros dias do protesto, os edifícios e escritórios do partido do Congresso Nacional, no poder, foram incendiados pelos manifestantes.

Pelo menos 19 pessoas, incluindo dois membros das forças de segurança, foram mortas, segundo um relatório oficial, mas a organização de direitos humanos da Amnistia Internacional registou 37 mortes.

A polícia de choque dispersou manifestações com gás lacrimogéneo, enquanto os serviços de segurança prenderam vários líderes da oposição e ativistas.

Na sexta-feira passada, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu às autoridades sudanesas que “conduzam uma investigação completa sobre as mortes e a violência” e ressaltou a necessidade de “garantir liberdade de expressão e reunião pacífica”.

O presidente Bashir ordenou, na terça-feira, a criação de uma comissão para “Restaurar a democracia” para investigar a violência mortal registada durante os protestos.

“O presidente Omar al-Bashir ordenou a criação de uma comissão de inquérito presidida pelo ministro da Justiça para tratar dos acontecimentos dos últimos dias”, disse a agência oficial de notícias Suna, citando um decreto presidencial.

O Sudão está a viver uma crise monetária grave e uma inflação galopante, apesar do levantamento do embargo comercial dos EUA em outubro de 2017.

Apesar do levantamento das sanções, os Estados Unidos mantiveram o Sudão na lista de países que apoiam o “terrorismo” e os bancos estrangeiros, como os investidores estrangeiros, continuam cautelosos em relação ao país, divididos por décadas de conflito.

Na terça-feira, 22 movimentos políticos apelaram ao restabelecimento de um novo regime no Sudão.

“O regime de Bashir não está em condições para ultrapassar a crise, devido ao isolamento político, económico, regional e internacional”, referiam em comunicado aqueles movimentos políticos.