Hoje foi anunciado que Portugal atingiu o objetivo europeu: 70% da população portuguesa já se encontra vacinada contra a covid-19 com a primeira dose da vacina – marca que foi alcançada alguns dias antes do previsto. Além disso, neste momento, 60,5% da população tem vacinação completa. No entanto, como já referido anteriormente, mesmo com 70% da população vacinada esta não é a meta para a imunidade de grupo. No combate à pandemia, para já, há apenas uma meta concreta no horizonte: vacinar o maior número possível de pessoas, o mais rápido possível.

Foi António Lacerda Sales, secretário de Estado adjunto e da Saúde, após uma visita ao serviço de Medicina Intensiva do hospital da Guarda, em declarações aos jornalistas, que destacou o feito: "Atingimos hoje, em Portugal Continental, 70% da população vacinada com primeiras doses e 60,5% da população com segundas doses. Este é um motivo de enorme esperança e confiança no futuro. Acima de tudo quer agradecer hoje a povo português a sua maturidade cívica, pela forma como encara a sua proteção e proteção dos outros também".

Fala-se de esperança para o país e, de acordo com o mais recente relatório das linhas vermelhas da pandemia, da Direção-Geral de Saúde e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, a pressão sobre as unidades hospitalares, a incidência, a transmissibilidade e até a positividade voltaram a verificar uma tendência decrescente, apesar de uma atividade epidémica intensa. No entanto, há uma tendência que parece crescente, a da mortalidade, que subiu para 16,4 óbitos por milhão de habitantes e deverá manter-se elevada nos próximos dias.

Para já, mesmo com os surtos nos lares, não são esperados números semelhantes aos dos surtos de fevereiro. Estes, porém, acentuam também a necessidade de vacinar todos e alguns especialistas referem que se poderá até, num futuro próximo, equacionar a possibilidade de administrar uma terceira dose a grupos de risco, principalmente aos que se encontram em lares. No entanto, a ‘task force’ e o Governo não ponderam para já essa hipótese, justificando que não há evidência científica que comprove tal necessidade.

O coordenador da ‘task force’, vice-almirante Gouveia e Melo, que hoje falou aos jornalistas no final de uma visita ao Centro de Vacinação Covid-19 de Évora, afastou a possibilidade de uma terceira dose da vacina em idosos nos lares: “Não há evidência científica, neste momento, para dizer que a terceira dose é necessária. E, enquanto não houver evidência científica, não devemos começar a criar uma imagem que vem aí qualquer coisa e temos que ir já para uma terceira dose”.

Também Lacerda Sales reiterou as informações já transmitidas pelo vice-almirante, de que "essa hipótese ainda não está sobre a mesa", acrescentando que "não devemos por isso abrir expectativas" e que é necessária "robustez científica e dados devidamente consolidados”.

Porém, em países como França e Alemanha, a vacinação com terceiras doses vai avançar em setembro, mesmo depois do apelo da OMS para que doassem as vacinas a países mais pobres, por forma a evitar que o vírus circule noutros países, podendo promover o aparecimento e propagação de novas variantes. Por sua vez, Israel já começou uma campanha de reforço da terceira dose  para pessoas com 60 anos ou mais.

Questionado sobre a hipótese de se realizarem testes à imunidade nos lares, Gouveia e Melo, recorrendo ao que disse ter ouvido “dos técnicos de saúde”, explicou que “a medida de anticorpos pode não ser suficiente para nós percebermos se estamos ou não protegidos contra o vírus, porque nas células T há memória do vírus e as células T em presença do vírus criam anticorpos”. Por isso, salientou ainda, se forem medidos os anticorpos a uma pessoa que “não teve contacto com o vírus recentemente”, esta “pode ter os anticorpos a zero”, mas isso “não significa que não tenha defesa para o vírus”. O coordenador da ‘task force’ mencionou também “estudos” sobre as células T que indicam que a imunidade “fica adquirida por um longo período, se não para a vida toda”.

Também no que diz respeito à eventual necessidade de "testes de imunidade", devido aos recentes surtos verificados em lares, Lacerda Sales reforçou que "há vários tipos de imunidade e que a imunidade também tem memória, nomeadamente a linfócitos T e que, portanto, os testes serológicos, só por si, e existência de anticorpos pode não significar que a pessoa tem [ou não] imunidade. A pessoa pode não apresentar anticorpos por via dos testes serológicos e pode ter essa imunidade de memória".

Lacerda Sales abordou ainda a questão da vacinação, ou não, dos jovens entre os 12 e os 15 anos e disse que, se for o caso, o Governo estará preparado para avançar: “Estamos preparados para poder vacinar as crianças dos 12 aos 15 anos, saudáveis, se for essa a decisão da Direção-Geral da Saúde (DGS) ainda antes do arranque do ano letivo”.

Também Gouveia e Melo fez referência à vacinação nesta faixa etária e alertou que o tempo está a esgotar-se. “O processo está planeado para um futuro próximo em termos logísticos, nós estamos a dar tempo é para que os profissionais de saúde cheguem a esse consenso. Claro que esse tempo se está a esgotar e pode ser crítico que esse cuidado – que é importante para todos nós – pode ser entendido como uma ‘não recomendação’ e não é uma ‘não recomendação’, é só um cuidado para se ter a certeza de qual o melhor caminho a seguir”.

Um caminho possível poderá ser a vacinação de jovens saudáveis dos 12-15 anos com apenas uma dose — pelo menos é o que sugere um parecer enviado à comissão técnica de vacinação por parte da pediatra Maria do Céu Machado, que também é membro consultivo da própria comissão, que salienta que a primeira dose terá um efeito imunológico superior a outros grupos etários.

Dúvidas à parte, há algumas certezas: mantém-se a imposição de travar o avanço do vírus e, além da vacinação, o importante é que se mantenha a utilização de máscara, o distanciamento social e outras medidas de proteção, até recomendação em contrário.