As comemorações do centenário da Checoslováquia já duram há um ano, mas no domingo atingem o seu ponto alto, com uma série de iniciativas que vão de concertos à reabertura do Museu Nacional, em Praga.

Nas paredes do exterior do museu, ao longo de sábado e domingo, os visitantes poderão ver imagens projetadas que representam a história de cem anos do país, ao mesmo tempo que noutros pontos da capital, Praga, se podem ouvir concertos e assistir a exposições de artistas que se deslocam das várias partes da República Checa e da República da Eslováquia.

Líderes políticos de vários países (incluindo a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Emmanuel Macron) deslocam-se a Praga, sábado e domingo, para as celebrações e para encontros com o primeiro-ministro checo, Andrej Babis.

As autoridades e personalidades de diferentes quadrantes da República da Eslováquia também se concentram em Praga, para a celebração do nascimento do Estado federal da Checoslováquia, que durante várias décadas foi constituído pela República Socialista Checa e pela República Socialista da Eslováquia.

“Nestas comemorações, queremos lembrar todos os momentos de uma história breve, mas rica, de cem anos”, afirmou o primeiro-ministro checo, Andrej Babis, no anúncio das celebrações.

Naturalmente, o momento primeiro a ser lembrado é o dia 28 de outubro de 1918, quando, no rescaldo das negociações de paz após a I Guerra Mundial (1914-1918), Tomás Mazarik declarou a independência do Estado da Checoslováquia, de que se tornaria o primeiro Presidente.

Os anos iniciais da nova República não foram fáceis, sobretudo porque se tentou unificar dois povos e duas culturas (a checa e a eslovaca) com muitas diferenças.

“A ideia de um povo checoslovaco, de uma única língua e cultura, foi artificialmente promovida pelos ‘media’ e pelos políticos, para consumo doméstico e internacional, para legitimar a nova República”, explica Marta Filipova, investigadora da Universidade de Birmingham.

"Mas prevaleceu sempre a cultura checa sobre a eslovaca", acrescenta a estudiosa.

Por isso, após a libertação da Checoslováquia do controlo soviético, em 1989, foram precisos apenas quatro anos, até 1993, para a federação se dividir em duas repúblicas (a Checa e a Eslovaca), que agora celebram o seu passado comum.

As embaixadas dos países com representação em Praga associam-se a estas comemorações, incluindo a dos Estados Unidos da América, que ao longo dos últimos meses têm assinalado esta data, recordando que a independência da República Checa teve os seus primeiros passos com a assinatura do Tratado de Pittsburgh, no Estado da Pensilvânia, e que a Constituição checoslovaca se inspirou na Constituição americana.

Os exércitos dos Estados Unidos e da União Soviética libertaram a Checoslováquia da ocupação nazi, em 1945, e no ano seguinte o Partido Comunista checo venceu as eleições e, após um golpe de Estado, em 1948, o país tornou-se uma Federação de partido único, sob a alçada soviética.

“A insatisfação social e política aumentou durante a década de 1960 e o regime foi sujeito a enormes pressões para se reformar”, diz a investigadora Marta Filipova, explicando o movimento que ficou conhecido como a Primavera de Praga, que terminou com a invasão militar liderada pela União Soviética, em 1968.

A Checoslováquia permaneceu sob alçada do regime soviético até à queda do muro de Berlim, em 1989, fazendo colapsar o governo comunista, naquela que ficou conhecida como a Revolução de Veludo (uma transição de poder não violenta).

Em 1993, essa transição levou à dissolução da Checoslováquia em duas repúblicas (Checa e Eslovaca), bem como à democratização e introdução de uma política de mercado, que permitiram a entrada dos dois países na Nato (1999) e na União Europeia (2004).

As relações de Portugal com a Checoslováquia intensificaram-se sobretudo no período de contestação ao domínio soviético por parte de Praga.

Nas vésperas da Revolução de Veludo, um grupo de jovens ativistas portugueses (onde pontificaram o socialista Álvaro Beleza e o social-democrata José Pedro Aguiar-Branco) manifestou-se nas ruas de Praga, a favor da democracia no país, ao lado de Václav Havel, resistente contra o regime soviético e futuro Presidente da Checoslováquia e da República Checa.

Václav Havel, na época de transição para o regime democrático, teve igualmente o apoio do Presidente da República de Portugal, Mário Soares, que o condecorou com a Ordem da Liberdade, em 1990.