Em declarações à agência Lusa, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, disse que o Serviço de Urgência do hospital de Leiria atingiu o "limite" e que "só não encerra por todo o esforço dos médicos que lá trabalham", mesmo "sem serem reconhecidos pelo Conselho de Administração [CA] do CHL".

"Todos os chefes de equipa de Urgência de Medicina Interna apresentaram já a demissão, no dia 25 de janeiro, alegando a inexistência de condições essenciais ao desempenho das funções", referiu, explicando que os médicos "não têm tempo para a chefia do serviço, nem recursos para cumprir a escala de urgência".

"Estes médicos consideram que não têm as condições para um atendimento adequado e com qualidade para dar os doentes e apontam mesmo situações de falta de segurança para os utentes, o que é do conhecimento do CA", revelou ainda.

Desde o início do ano, a Ordem dos Médicos já recebeu 159 declarações de responsabilidade: "Recebemos mais cartas de declarações de responsabilidade do que de todos os hospitais do Centro juntos, o que mostra uma grande preocupação com o que está a acontecer em Leiria, sobretudo na Urgência de Medicina Interna", salientou Carlos Cortes.

O responsável reforçou que os médicos deveriam estar apenas alocados ao Serviço de Urgência, mas, "contrariando o Colégio da Especialidade de Medicina Interna e a Ordem dos Médicos, tal não sucede, porque estão a dar apoio a outros serviços do hospital".

Desde abril de 2018, "12 médicos de Medicina Interna saíram do hospital de Leiria e outros dois também vão abandonar, alguns mesmo sem qualquer outro vínculo de trabalho".

A decisão de saída, disse Carlos Cortes, é apontada pela "falta de condições para desenvolverem as suas tarefas de forma adequada".

"O CA tem conhecimento de tudo o que está a acontecer, porque a SRCOM tem alertado, mas tem sido incapaz de resolver esta situação. É surpreendente que não estejam interessados em ouvir os médicos, que percebem o que está a acontecer e poderiam, juntos, experimentar soluções”, acrescentou.

Carlos Cortes já deu conhecimento ao Ministério da Saúde, pedindo a "intervenção" da ministra Marta Temido para "ajudar a solucionar este problema".

“Há doentes que estão 24 horas sem serem reavaliados por um médico, por falta de condições. É preciso colocar em prática um plano de emergência. O hospital chegou ao seu limite para atender doentes. Soube que o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] já deu indicação para não serem encaminhados doentes para este hospital, por falta de capacidade de resposta", denunciou também.

Além de ter sido pedida uma reunião ao CA do CHL, vão ser enviadas à ministra da Saúde as cartas com os argumentos das declarações de responsabilidade e a SRCOM irá levar à Comissão Parlamentar da Saúde e à Administração Regional de Saúde do Centro todo este problema.

Em resposta à Lusa, o CA admite que "a situação dos serviços de Urgência no CHL é complexa, mas não tem registado um agravamento acentuado nos últimos dias, salvo situações pontuais, nomeadamente a registada no dia 28 de janeiro, ou mesmo no dia de hoje”, em que se ultrapassou os 500 atendimentos.

"O afluxo de doentes continua elevado, sem qualquer melhoria na percentagem de doentes não urgentes ou pouco urgentes que acorrem aos serviços, que se mantém na casa dos 40%, o que é, naturalmente, uma preocupação para os serviços vocacionados para o atendimento de situações urgentes e emergentes", salienta o CA.

Reconhecendo as "dificuldades vividas no dia-a-dia pelos profissionais destes serviços", o CA referiu que "tem tentado ultrapassar ou, pelo menos, minimizar [dificuldades], mas sem conseguir, por hora, incrementar as equipas e reforçar o atendimento ao nível dos recursos humanos".

"Estamos a trabalhar com a rede de cuidados a montante e a jusante de forma a direcionar os utentes para os níveis de cuidados adequados, nomeadamente através da articulação com o INEM e com outras unidades hospitalares, quer num sistema que estamos a implementar, e que estará operacional nas próximas semanas, de agendamento de consultas diretamente pelos profissionais da Urgência para os cuidados primários, encaminhando os doentes que estão indevidamente no serviço de Urgência para consultas de agudos nos centros de saúde, onde serão atendidos no próprio dia".

O CA do CHL "reconhece o trabalho difícil mas empenhado dos seus profissionais e reitera a necessidade da colaboração de todos os intervenientes na rede de cuidados, e também dos utentes, para que as urgências hospitalares sejam usadas de forma correta".

"É fundamental minimizar este desequilíbrio de procura em relação à oferta de que o CHL dispõe, e é para isso que o CA está a trabalhar já há vários anos, exigindo para esta unidade de saúde os recursos de que efetivamente necessita para a sua real dimensão", rematou o CA.