“É chegada a altura de voltar a colocar os símbolos religiosos nas escolas e locais públicos em vez de fotografias de presidentes que se julgam donos dos açorianos”, escreveu o também deputado José Pacheco na Moção de Estratégia Global do III Congresso Regional do Chega Açores, que hoje se realiza em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, Açores.
Em vez de ler o documento de 17 páginas, Pacheco apresentou, de forma informal, algumas ideias ali expostas, tendo o primeiro aplauso da plateia do congresso chegado quando o líder regional defendia o conceito tradicional de família e criticava a retirada de símbolos religiosos de locais públicos.
“Não posso tolerar que destruam a minha história para que construam uma história alternativa. Não posso tirar os símbolos religiosos de todo o lado. E a maioria que acredita? Quem os respeita? Ninguém. Merecemos respeito. Não nos tirem o que temos. Por que nos retiraram os crucifixos? Só porque não acreditam? Eu não retiro a liberdade a ninguém”, frisou.
Pacheco afirmou que “há pessoas que não trabalham porque não querem”.
“Andamos a pagar para não fazerem nada. Estou-me marimbando que me chamem de xenófobo, de fascista, de racista. Não me incomodo: estou preocupado pelo futuro do meu filho porque este Estado está a pagar para não se produzir”, lamentou, perante novo aplauso da plateia de cerca de 30 pessoas, que se reuniu num hotel da cidade.
Na moção escrita, distribuída aos congressistas e à comunicação social, José Pacheco manifestou ainda a intenção de “impedir que as escolas se transformem em espaços de aculturação ideológica de esquerda, com especial preocupação da difusão da ideologia do género a crianças”.
Por outro lado, o Chega/Açores quer que “as escolas onde os alunos obtêm resultados abaixo da média do concelho” sejam “objeto de inquérito anual a fim de serem apuradas as causas subjacentes a esses maus resultados”.
“Premiar as famílias em que os filhos tenham sucesso escolar, através de atribuição de majorações ao abono de família, atendendo ao custo que o insucesso escolar tem para a sociedade em geral” é outra das propostas, a par da atribuição do abono de família para todos, independentemente dos rendimentos.
Pacheco pretende, também, “apoiar a aquisição e manutenção da habitação para jovens”, bem como “a natalidade e fixação das famílias em ilhas com perdas crónicas de população”.
A vertente religiosa e das tradições é abordada por várias vezes no documento, nomeadamente para defender o “turismo cultural e religioso”, que “deve ter uma maior importância na promoção turística”.
“Muitas das nossas festividades são únicas no mundo e merecem ser vistas e vividas por quem nos visita”, defendeu.
Para o líder do Chega/Açores, “o turismo e a sua respetiva divulgação deve assentar numa visão de que o turismo não deve, nem pode, assentar apenas ou maioritariamente na beleza paisagística”.
“Os Açores devem ser entendidos como um todo, como uma parceria perfeita entre a natureza, o Homem com os seus costumes e tradições”, sustentou.
“As nossas tradições religiosas têm sido um cartaz turístico ao longo dos anos trazendo a estas paragens inúmeros visitantes. Este património religioso não tem sido suficientemente protegido e acarinhado pelos sucessivos governos como era suposto”, acrescentou.
Por isso, deve ser feito “um combate, sem tréguas, aos seus inimigos que encontram guarida em muitos partidos da extrema-esquerda que pretendem fazer um revisionismo histórico da cultura e das tradições, embarcando em demagogias baratas e perigosas a pretexto de um estado laico”.
O responsável quer “restaurar a confiança das pessoas no Ministério do Ambiente”, para que esta “deixe de ser uma força de bloqueio do investimento, uma espécie de polícia que persegue tudo e todos em defesa de ideologias extremistas”.
O líder regional defende “fundir a Secretaria do Ambiente com a da Agricultura, por forma a economizar recursos e a tornar as políticas ambientais mais amigas da agricultura, algo que não tem acontecido até agora”.
“Acabar com os programas ocupacionais” e “combater a violência doméstica, a exclusão social e o aproveitamento abusivo do RSI [Rendimento Social de Inserção]” são outras pretensões manifestadas na moção.
Na saúde, “todos os sistemas de saúde públicos de hospitais e centros de saúde devem implementar uma plataforma de marcação de consultas e atos médicos ‘online’”, para tornar “o sistema transparente e menos permeável à cunha, amiguismo e corrupção”.
Na área dos transportes, o objetivo é “acabar com os reembolsos” do subsídio de mobilidade, uma compensação do Estado às viagens aéreas de residentes para o continente português.
Assim, deve negociar-se “com o Governo da República a alteração ao subsídio de mobilidade, para que seja estabelecido um preço fixo por cada passagem aérea entre os Açores e continente para residentes sem mais burocracias”.
O também vice-presidente nacional do Chega pretende estabelecer “sinergias entre a TAP e a SATA” evitando duplicação de gastos entre a companhia aérea nacional e a açoriana.
O deputado no parlamento açoriano, que era o único candidato, foi eleito em 23 de abril como líder da estrutura regional, tendo alcançado “100% da aceitação dos votantes”, segundo divulgou o partido na altura.
Esta foi a primeira vez que José Pacheco concorreu à liderança do partido nos Açores, depois de se ter assumido como porta-voz da estrutura regional, na sequência da saída de Carlos Furtado em julho de 2021.
Com 5,06% dos votos, o Chega foi a quarta força política mais votada nas eleições açorianas de 2020, atrás de PS, PSD e CDS, conseguindo eleger dois deputados.
Atualmente, o partido só tem um deputado no parlamento açoriano, depois de Carlos Furtado ter passado a independente, na sequência da perda de confiança política de André Ventura a 14 de julho de 2021.
O Chega é um dos partidos que assinou um acordo de incidência parlamentar com os partidos que integram o Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM).
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