Uma inflação galopante, um sistema de pensões descapitalizado e uma desigualdade acentuada pela pandemia de covid-19 são os principais desafios colocados ao próximo Presidente do Chile, país há dois anos mergulhado na mais grave crise das últimas três décadas, que deixou de ser o “oásis latino-americano” que era antes de outubro de 2019, altura em que se iniciaram os maiores protestos populares desde a ditadura.

Dois modelos antagónicos competem nas urnas pela mão do ex-líder estudantil de esquerda Gabriel Boric e do advogado de extrema-direita José Antonio Kast, pondo fim a 30 anos de alternância política entre os dois blocos de centro que partilharam o poder desde o final da ditadura militar de Augusto Pinochet, em 1990, o que faz deste ato eleitoral, juntamente com o referendo por uma nova Constituição de outubro de 2020, o mais importante da história recente do país.

Sistema de saúde universal e pensões de sobrevivência, feminismo e ambientalismo são as bandeiras de Boric, ao passo que Kast aposta no discurso anti-imigração, da família tradicional e do neoliberalismo.

Boric, de 35 anos e líder da Frente Ampla, representa a parte da sociedade chilena que quer “mudanças profundas” e que participou nos massivos protestos pela igualdade de 2019: quer melhores pensões, educação, saúde e põe muita ênfase no ambientalismo e no feminismo.

Kast, o candidato da extrema-direita, de 55 anos, é um católico fervoroso e pai de nove filhos, parte de um clã familiar que teve laços políticos com a ditadura de Pinochet, um regime com o qual se mostrou complacente em diversas ocasiões, e é mais favorável à manutenção do ‘statu quo’ e à colocação dos valores conservadores e da família no centro de tudo.

É contra o casamento para toda a gente e o aborto em quaisquer circunstâncias e propõe escavar uma vala na fronteira para impedir a entrada de imigrantes, o que faz recordar o controverso discurso do ex-Presidente norte-americano Donald Trump.

Segundo os especialistas, a eleição do sucessor do conservador Sebastián Piñera será decidida voto a voto, uma vez que caberá aos eleitores que na primeira volta votaram nos candidatos do centro, agora eliminados, escolher um dos dois ainda na corrida, e eles têm vindo a moderar o seu discurso por forma a captar esses votos em matérias como tributação e pensões.

Em termos económicos, a principal diferença entre Boric e Kast tem que ver com o papel do Estado: a perspetiva de Boric está alinhada com a de uma social-democracia europeia, que quer que o Estado garanta certos direitos, ao passo que Kast defende a preservação do atual modelo, muito marcado pelo papel mínimo do setor público.

Outro dos aspetos fundamentais será o futuro do processo constituinte, que arrancou em julho passado como via política para amainar a crise social de 2019: Boric tem mais espírito de cooperação, Kast é um cético da mudança constitucional e votou contra no referendo.

O novo Governo desempenhará um papel fundamental nesse processo, porque terá a seu cargo aspetos administrativos e orçamentais e poderá mesmo condicionar o resultado do referendo final de 2022, no qual os cidadãos chilenos deverão pronunciar-se sobre se aprovam ou não a nova Constituição do país.

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