A detenção arbitrária de membros das minorias étnicas chinesas de origem muçulmana cazaques e uigures, em campos de doutrinação, onde são forçados a criticar o islão e a sua própria cultura, tem sido uma questão delicada entre Pequim e Astana.

Com cerca de 18 milhões de habitantes, o Cazaquistão faz fronteira com a China e os dois países são importantes parceiros comerciais.

A imprensa cazaquistanesa, controlada pelo Estado, tem evitado referir a detenção de mais de um milhão de muçulmanos na China, mas a crescente cobertura por órgãos internacionais e denúncias pela ONU terá levado Astana a pressionar Pequim.

O ministério cazaquistanês dos Negócios Estrangeiros disse que a China concordou em deixar mais de dois mil cazaques abandonar o país.

Estes poderão solicitar a cidadania cazaquistanesa ou a residência permanente, após a sua chegada ao Cazaquistão, informou a mesma fonte, sem detalhar os critérios para a seleção dos dois mil cazaques.

O ministério chinês dos Negócios Estrangeiros não comentou, até à data, estas informações.

Desde que, em 2009, a capital da região do Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional, a China tem levado a cabo uma agressiva política de policiamento dos uigures e cazaques.

Nos últimos meses, grupos de defesa dos direitos humanos e testemunhas denunciaram a criação dos campos de doutrinação na região, onde antigos detidos denunciaram terem sido forçados a renunciar à sua cultura e fé e submetidos a doutrinação política.

As detenções assustaram a comunidade de cazaques chineses radicados no Cazaquistão.

Muitos deixaram a China para buscar oportunidades de negócio no comércio ou educar os filhos nas escolas do Cazaquistão, à medida que as restrições contra o islão se intensificaram no país.

Os familiares no Xinjiang de centenas de pessoas passaram a estar incontactáveis, e muitos passaram a escrever cartas abertas e a organizar conferências de imprensa, apelando à China que permita o regresso dos seus entrequeridos a casa.

Citado pela agência Associated Press, Serikzhan Bilash, que dirige a organização de defesa dos Direitos Humanos Atajurt, afirma sentir uma mudança "subtil" na postura do governo cazaquistanês.

Bilash disse que, no verão passado, foi advertido por quatro vezes pelas autoridades, para parar com as suas campanhas que denunciam a situação dos cazaques detidos, mas que as advertências pararam, entretanto.

No mês passado, ele foi convidado para dar uma entrevista de uma hora num conhecido programa de televisão do Cazaquistão, indicando crescente tolerância pelo seu trabalho.

"Eu afirmei que as autoridades chinesas são perigosas para a Ásia Central e para o Cazaquistão", disse Bilash. "Eles estão a começar agora a aceitar a minha opinião".

Embora tenham evitado criticar abertamente a China, os diplomatas do Cazaquistão trabalharam para garantir a libertação dos seus cidadãos detidos no Xinjiang.

O ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou, em novembro passado, que a China havia detido já 29 cidadãos do Cazaquistão, mas que 15 foram, entretanto, libertados e autorizados a regressar ao Cazaquistão.