O dissidente chinês Liu Xiaobo encontra-se em "estado crítico", anunciou esta segunda-feira o hospital em que está internado, desde que saiu da prisão, o Prémio Nobel da Paz de 2010, vítima de um cancro no fígado em fase terminal.
"A equipa nacional de especialista considera que o paciente se encontra em estado crítico", afirmou num comunicado o hospital de Shenyang (nordeste da China).
A equipa médica do Hospital Universitário Nº1 de Shenyang disse que está preparada para transferir Liu Xiaobo para a unidade de cuidados intensivos. Os últimos exames revelam que o tumor aumentou e que Liu apresenta um quadro de tensão baixa e de insuficiência renal, acrescentou o estabelecimento.
Várias organizações de defesa dos direitos humanos e familiares acusam o governo chinês de ter esperado que seu estado de saúde piorasse para, então, libertá-lo. As autoridades garantem que Liu está sendo atendido por oncologistas de renome.
No sábado, o Hospital de Shenyang declarou que o paciente não poderia ser transportado para o exterior, contrariando o desejo de Liu Xiaobo. Este domingo, médicos americanos e alemães que examinaram Liu Xiaobo afirmaram que ele poderia viajar "sem perigo".
Hospital tinha suspendido o tratamento
Numa declaração difundida no respetivo site, na passada sexta-feira, o First Hospital of China Medical University disse que a equipa médica decidiu suspender o uso de um medicamento devido à deterioração das funções do fígado de Liu Xiaobo. Também referiu que o uso de medicina tradicional para tratar o tumor foi igualmente suspenso.
A mesma declaração indica que a equipa médica adicionou ao tratamento um medicamento para tratar a trombose venosa que o ativista estava a desenvolver numa perna.
Condenado em 2009 a uma pena de 11 anos de cadeia por subversão, Liu Xiaobo, de 61 anos, foi colocado em liberdade condicional após lhe ter sido diagnosticado, em maio, um cancro no fígado em fase terminal.
Já na semana anterior, a mulher de Liu Xiaobo deu a entender que o cancro no fígado de que padece o Nobel da Paz chinês é inoperável, num vídeo difundido na Internet.
Sem conter as lágrimas, Liu Xia sugeria que eram inúteis tratamentos médicos como quimioterapia ou radioterapia, durante o vídeo, de apenas dez segundos, difundido através do Twitter.
Na passada quarta-feira a China convidou médicos estrangeiros para examinar o estado de saúde do Nobel da Paz chinês.
Vários países tinham pedido a Pequim para autorizar Liu Xiaobo a viajar para o estrangeiro para tratamento médico, um pedido também manifestado por organizações não-governamentais e de defesa dos direitos humanos.
Símbolo da luta pela democracia na China, Liu Xiaobo, de 61 anos, foi condenado depois de ter sido um dos promotores da chamada “Carta 08″, um manifesto a favor da introdução de reformas políticas democráticas e do respeito pelos direitos humanos no país, subscrito inicialmente por mais de 300 intelectuais, inspirado na “Carta 77″ lançada por Vaclav Havel na antiga Checoslováquia socialista.
O antigo professor de Literatura na Universidade de Pequim escreveu sobre a sociedade e a cultura chinesas, centrando-se na democracia e nos direitos humanos e era influente no meio intelectual.
Liu foi um dos animadores do movimento estudantil pró-democracia da Praça Tiananmen, em 1989, tendo estado preso durante 21 meses após a violenta repressão dos protestos.
Em 1996, foi condenado a três anos de “reeducação através do trabalho”, em resultado de mais ações de luta pelos direitos fundamentais.
Foi novamente detido a 08 de dezembro de 2008, dois dias antes da publicação, por ocasião do 60.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da “Carta 08″, embora a data formal da detenção tenha sido 23 de junho de 2009, por suspeita de “alegadas ações de agitação destinadas a subverter o Governo e derrubar o sistema socialista”.
Em 09 de dezembro de 2009 foi oficialmente acusado de “incitar à subversão do poder do Estado” e a 25 do mesmo mês, após um julgamento que não cumpriu os padrões processuais internacionais mínimos, foi condenado a 11 anos de cadeia.
A Academia Nobel atribuiu-lhe em 08 de outubro de 2010 o galardão da Paz, em reconhecimento da “longa e não-violenta luta pelos direitos humanos fundamentais na China”.
[Notícia atualizada às 12h02 com mais informações sobre o estado clínico de Liu Xiaobo]
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