"Novichok não é uma substância, é todo um sistema de armas químicas", explicou Leonid Rink, apresentado pela agência como um dos diretores do programa.

O Reino Unido considera que uma destas substâncias provocou o envenenamento de Skripal, um ex-agente russo, e da sua filha, Julia, no dia 4 de março, em Salisbury.

"Eles continuam vivos. Isto significa que não era o sistema Novichok, ou que foi aplicado de modo descuidado", acrescentou. "Ou, logo após a aplicação, os ingleses usaram um antídoto, o que significa que teriam que saber exatamente qual era o veneno", disse ainda.

A existência deste programa foi revelada por Vil Mirzayanov, um químico russo refugiado nos Estados Unidos. O cientista afirmou que os agentes nervosos foram criados na década de 1980 por cientistas soviéticos.

O governo russo, no entanto, nega que já tenha existido um programa de desenvolvimento de armas químicas chamado Novichok, agora ou no período da União Soviética.

"Havia um grande grupo de especialistas que desenvolviam o Novichok em Moscovo e em Shikhany, técnicos, toxicólogos, bioquímicos (...) Conseguimos ótimos resultados", disse Rink à agência Ria-Novosti.

De acordo com o cientista, o programa chamava-se Novichok-5. "O nome sempre era acompanhado do número", explicou.

Rink, porém, não acredita que a Rússia tenha responsabilidade no envenenamento de Skripal, que permanece internado em estado grave.

"Disparar contra um indivíduo que não tem interesse com um míssil de tal calibre e, apesar disso, não conseguir atingi-lo, é o cúmulo da estupidez", disse.

Segundo Rink, a tecnologia do programa Novichok está ao alcance de "qualquer Estado desenvolvido" ou qualquer grande empresa farmacêutica. "Desenvolver uma arma assim não supõe nenhum problema", garantiu.

Procurado pela AFP após a publicação da entrevista, o ministério russo das Relações Exteriores reiterou que "nunca existiu um programa de pesquisa e desenvolvimento chamado Novichok".

Sergei Skripal, de 66 anos, e a filha Julia Skripal, de 33 anos, continuam hospitalizados “em estado crítico”, segundo as autoridades, depois de terem sido encontrados inconscientes em Salisbury, após terem sido expostos de forma intencionada a um agente nervoso.

O polícia britânico Nick Bailey, que encontrou o pai e a filha sentados num banco, também ficou afetado e está internado, sendo que o seu estado de saúde “considerado grave, mas estável”. O agente está consciente e com “capacidade para falar”, informaram as autoridades.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, culpa o Kremlin pelo ocorrido, tendo sido desencadeada uma crise política e diplomática entre ambos os países. Já o Governo russo garante que o gás 'Novitchok', com o qual terão sido envenenados o ex-espião russo Sergie Skripal e a sua filha, foi desenvolvido pelo ocidente, e não pela Rússia, como denunciado pelo Reino Unido.

Sergei Skripal, ex-agente dos serviços secretos militares de Moscovo, foi processado na Rússia em 2004 por ter colaborado com os serviços de informações britânicos (MI6), mas conseguiu refugiar-se no Reino Unido em 2010, depois de ter sido libertado no quadro de uma troca de espiões entre os dois países.

O The Times revelou entretanto que o ex-espião russo Sergei Skripal encontrava-se todos os meses num restaurante com o seu antigo contacto nos serviços secretos britânicos, o MI6. O ex-agente e o seu antigo “contacto” britânico conversavam de forma regular em inglês e em russo sobre certos negócios na Polónia, entre outros assuntos, segundo o The Times, que sublinhou existirem dúvidas sobre se Skripal continuava a trabalhar nos serviços secretos.