"Há momentos, assinei um acordo para garantir a base conjunta entre Reino Unido e Estados Unidos em Diego García", disse o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, após a Justiça britânica rejeitar, na quinta-feira, um recurso de última hora que procurava impedir a assinatura do acordo com o país africano.

O primeiro-ministro das ilhas Maurício, Navin Ramgoolam, comemorou uma "grande vitória", afirmando que o arquipélago tinha "completado o processo de descolonização iniciado com a sua independência em 1968".

Após anos de negociações, Londres concordou em outubro em reconhecer a soberania das ilhas Maurício sobre Chagos, com a condição de que o país mantivesse a base militar.

O acordo prevê que o Reino Unido pague à ex-colónia 101 milhões de libras por ano, durante 99 anos, pelo arrendamento das instalações, segundo Starmer.

"Não há alternativa a não ser agir no interesse do Reino Unido e aceitar este acordo", declarou o primeiro-ministro, acrescentando que o custo líquido durante o arrendamento é estimado em 3,4 mil milhões de libras.

No entanto, a finalização do acordo foi adiada pela chegada de Donald Trump à Casa Branca em novembro, assim como pela mudança de primeiro-ministro nas ilhas Maurício.

O governo Trump criticou repetidamente este acordo, argumentando que favorecia a China, uma aliada de Maurício.

"Os Estados Unidos dão as boas-vindas a este acordo histórico", disse o secretário de Estado americano, Marco Rubio, num comunicado.

"Este acordo garante a operação de longo prazo, estável, eficaz da instalação militar conjunta entre Estados Unidos e Reino Unido em Diego Garcia, que é crucial para a segurança regional e global", acrescentou nesta quinta-feira.

Bloqueio temporário do acordo

A assinatura do acordo de restituição estava inicialmente marcada para a manhã de quinta-feira, mas a Justiça britânica, após receber um recurso de última hora de duas pessoas de Chagos, emitiu uma ordem judicial bloqueando-a temporariamente.

Depois de interromper a eventual cerimónia virtual na madrugada de quarta para quinta-feira, o Tribunal Superior de Londres convocou uma audiência para a manhã de quinta na capital britânica.

Após a audiência de quinta-feira, a ordem judicial que bloqueava temporariamente o acordo foi "revogada", anunciou o juiz Martin Chamberlain, rejeitando o recurso das duas demandantes, Bernadette Dugasse e Bertrice Pompe.

As mulheres, que moram no Reino Unido, acusam o governo britânico de ter tomado uma "decisão sem consulta" e colocado em dúvida a capacidade das autoridades do arquipélago em "atuar no seu interesse mediante os maus-tratos recebidos pelos moradores de Chagos".

"Hoje é um dia muito triste", reagiu Pompe.

O magistrado do Tribunal Superior de Londres declarou que o interesse público e o do Reino Unido seriam "prejudicados" se a suspensão fosse estendida.

O acordo agora deve ser submetido a um processo de ratificação parlamentar no Reino Unidos, o que pode levar vários meses.

Resoluções internacionais

Starmer observou que as resoluções legais internacionais questionavam a propriedade britânica de Chagos e que somente um acordo com Maurício poderia garantir a operação contínua da base.

Em 2019, a Corte Internacional de Justiça recomendou que Londres devolvesse o arquipélago às ilhas Maurício, após décadas de batalhas judiciais.

Londres manteve o controlo das ilhas Chagos quando Maurício conquistou a independência do Reino Unido em 1968.

Cerca de 2.000 habitantes do arquipélago foram expulsos nos anos seguintes, especialmente de Diego García, onde fica a base militar.

Esta base foi usada como centro de operações para navios e bombardeiros de longo alcance durante as guerras no Afeganistão e no Iraque.

Na audiência desta quinta-feira, o advogado das autoras da ação, Philip Rule, afirmou que as suas clientes ficaram a saber da assinatura pela imprensa na noite de quarta-feira.

Durante a audiência, cerca de 50 cidadãos de Chagos manifestaram-se em frente ao Tribunal Superior de Londres para protestar contra a assinatura do acordo.

"Britânicos tratados como cidadãos de segunda classe", dizia um dos cartazes exibidos pelos manifestantes.