O Presidente da República defendeu hoje que o espaço ibero-americano constitui "uma força de paz no mundo" e tem como tarefa "recuperar o multilateralismo", antevendo que 2023 e 2024 serão "anos decisivos".

"O mundo é multipolar, mas nos últimos tempos deixou de ser multilateral. Temos de recuperar o multilateralismo. E essa é uma tarefa nossa", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, na 28.ª Cimeira Ibero-Americana, em Santo Domingo, na República Dominicana.

Num discurso feito em português, que durou quinze minutos, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se à invasão russa da Ucrânia e à consequente guerra que dura há mais de um ano como "uma guerra global" que deve ser condenada por todos.

"Uma guerra que nasceu da violação do direto internacional e de princípios que todos percebemos – mesmo aqueles que temos posições diferentes – que é o princípio da integridade do território e o princípio da soberania do Estado, é uma guerra global. Nenhum de nós aceita que esses princípios sejam violados contra o seu Estado, quem quer que viole, uma potência A, B, C ou D", argumentou.

O chefe de Estado considerou que esta é "uma cimeira histórica", que acontece no "começo de uma viragem geopolítica no mundo", em que "há potências que continuam globais, há potências que passam a regionais e há novas potências globais".

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "o mundo vai mudar, está a mudar, imprevisível, mas vai ser um mundo muito diferente do mundo que nasceu no final do século XX" e 2023 e 2024 "vão ser anos decisivos".

Nesta altura, defendeu, "é mais importante do que nunca reafirmar os grandes princípios" como "o direito internacional, as organizações internacionais, os grandes princípios, aqueles que permitem, como o multilateralismo, ultrapassar o unilateralismo, o protecionismo, o isolamento".

"O mundo ibero-americano, incluindo as Caraíbas, tem um papel único a desempenhar neste mundo que está a mudar. Nós somos muitos. Somos muitas centenas de milhões", disse. "Este é um momento de grande responsabilidade para todos nós".

António Costa também discursou, logo a seguir ao Presidente da República, anunciando um fundo com um milhão de euros para a cooperação entre a comunidade ibero-americana e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

O primeiro-ministro defendeu ainda que os países do espaço ibero-americano devem constituir uma "aliança para a transição energética".

Quanto aos "acordos comerciais que há muito tempo se arrastam" da União Europeia "com Chile, México e em particular o Mercosul", o primeiro-ministro manifestou "enorme expectativa" que possam avançar na presidência espanhola do Conselho da União Europeia, no segundo semestre deste ano.

Em defesa de uma maior cooperação no setor da energia no espaço ibero-americano, António Costa referiu que "as maiores reservas do mundo de lítio estão aqui na América Latina" e "as maiores reservas de lítio na Europa estão em Espanha e em Portugal".

Por outro lado, salientou que Espanha e Portugal acordaram com França a construção de um gasoduto para o transporte de hidrogénio.

"O que significa que esse hidrogénio verde que pode ser aqui produzido, pode ser transportado por barco, pode ser depois distribuído para toda a Europa, para o centro da Europa", acrescentou.

O primeiro-ministro apontou ainda, sobre o "cabo digital de alta qualidade" entre a América Latina e a Europa: "É uma gigantesca oportunidade para desenvolvermos em conjunto toda a economia com base nos dados, com base na inteligência artificial. E essa infraestrutura deve ser posta ao serviço do desenvolvimento de todos nós".

Segundo António Costa, a comunidade ibero-americana também pode "fazer a diferença" na proteção dos oceanos e no aproveitamento dos seus recursos, e deve "reforçar a cooperação no domínio da educação, no domínio da investigação científica, no domínio da inovação tecnológica".

Estão presentes em Santo Domingo os chefes de Estado do Equador, que acolherá a próxima cimeira, Espanha, Portugal, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Honduras, Paraguai e Uruguai, além do país anfitrião, República Dominicana, e também os chefes dos governos português e espanhol.