A partir de terça-feira e até 9 de novembro, a Formiga Atómica ocupará vários espaços do Teatro Viriato com os espetáculos “O Estado do Mundo (Quando Acordas)”, “Montanha-Russa”, “A Caminhada dos Elefantes”, “Do Bosque para o Mundo” e “Má Educação - Peça em 3 Rounds”.

“Estes cinco espetáculos são um retrato do que temos estado a fazer nestes dez anos, do trabalho de pesquisa feito de forma cada vez mais profunda ao longo destes projetos e das diferentes abordagens a diferentes públicos”, disse à agência Lusa Miguel Fragata, que em 2014 fundou a companhia com Inês Barahona.

A escolha de Viseu para as comemorações do décimo aniversário prendeu-se com as sinergias criadas com o Teatro Viriato logo desde o primeiro espetáculo da Formiga Atómica (com a coprodução de “A Caminhada dos Elefantes”), que foram sendo alimentadas ao longo dos anos.

“Fizemos questão de estrear o segundo espetáculo, ‘The Wall’, em Viseu. Tínhamos outros coprodutores, mas para nós era muito importante fazê-lo no Teatro Viriato, por lhe reconhecermos um enorme profissionalismo, uma equipa que funciona de forma extraordinária e um teatro que é uma referência e um excelente exemplo que gostávamos de ver mais vezes replicado”, justificou Miguel Fragata.

Os fundadores da Formiga Atómica acreditam “num trabalho de cooperação, de pequena escala, que se faz de um para um”.

“Um pequeno passo, um passo de formiga, mas que tenha o poder atómico da transformação. Portanto, olhamos para o teatro como uma formiga atómica, algo de escala pequena, mas que tenha um poder de mudança que pode ser muito forte”, frisou o encenador e diretor artístico da companhia.

Atualmente, a Formiga Atómica tem seis espetáculos em circulação. “A Caminhada dos Elefantes”, por exemplo, já se apresentou perto de 200 vezes, em quatro línguas diferentes (português, francês, alemão e castelhano), por toda a Europa e também na América do Sul.

“Terminal (O Estado do Mundo)”, segunda parte do díptico composto com “O Estado do Mundo (Quando Acordas)”, esteve este ano no Festival de Avignon, em França, país onde voltará ainda este ano, depois da estreia no Festival de Almada, em julho.

Os espetáculos escolhidos para Viseu permitirão uma reflexão sobre as alterações climáticas, a crise de refugiados, a adolescência, a morte e o futuro.

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Inês Barahona sublinhou que a Formiga Atómica “procura tocar diferentes públicos”, a partir de questões que geram inquietações e que vão sendo suscitadas quer pelas vivências e sensibilidades, quer por aquilo que acontece nos espetáculos.

“Os nossos espetáculos costumam ser filhos uns dos outros. Às vezes estamos a fazer um espetáculo e começa a nascer uma questão a partir dessa experiência, que transportamos para o espetáculo seguinte e assim sucessivamente”, contou.

Um exemplo disso foi o que aconteceu durante “The Wall”, em que adultos e crianças eram separados na plateia.

“Começaram a aparecer adolescentes e a perguntar-nos ‘e nós, onde é que nos sentamos?’. E isso criou-nos a necessidade, de repente, de pensar que lugar é esse da adolescência, uma espécie de lugar neutro, de passagem, e isso deu o espaço para pensar a ‘Montanha-Russa’, que fizemos alguns anos depois”, recordou.

Miguel Fragata e Inês Barahona gostam de “mergulhar em histórias reais, verdadeiras, e depois ficcioná-las um pouco”, mas não consideram que tenham uma linguagem definida.

“Há uma vontade muito grande da nossa parte de deixar que seja o tema que estamos a trabalhar a definir a linguagem do espetáculo”, explicou o diretor artístico.

No espetáculo “A Caminhada dos Elefantes”, sobre a morte e a existência, por exemplo, houve o recurso a “pequenos objetos que permitissem quase um jogo de Deus com a humanidade em miniatura”.

No espetáculo “Montanha-Russa”, sobre a adolescência, o eixo central foi a música - para a qual contaram com Helder Gonçalves e Manuela Azevedo, dos Clã -, atendendo à sua importância nesta fase da vida. Em “Má Educação - Peça em 3 Rounds”, o teatro foi colocado em diálogo com a dança, e contaram com o creógrafo Victor Hugo Pontes.

“Interessa-nos sempre muito, de projeto para projeto, criar uma espécie de desafio absoluto a nós próprios e também desafiar pessoas diferentes para pensarem o teatro em relação com outras áreas”, sublinhou Miguel Fragata.