A falta de optimismo desta organização ambientalista, expressa em comunicado, deve-se ao aumento das emissões que se verificava no período pré-pandemia e à intensificação dos impactos climáticos.

Contudo, relativiza, “há cinco anos a ideia de uma sociedade descarbonizada era impraticável. Hoje, qualquer país e empresa sensatos têm a prazo o objetivo de atingir a neutralidade climática. Tal não teria acontecido sem os objetivos ambiciosos do Acordo de Paris”.

No seu texto, a Zero apresenta as que considera serem as tendências positivas e negativas em Portugal e no mundo.

Neste período e relativo a Portugal, a Zero realça, em termos positivos, a assunção pelo Governo da “intenção de se atingir a neutralidade carbónica em 2050”, e a aprovação do respetivo roteiro, bem como a “integração de uma forte componente de mitigação climática na Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030 e no Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal”.

Ainda nesta apreciação positiva, referente a Portugal, a Zero menciona alguns anúncios, como a discussão de diversos projetos de uma Lei do Clima, o fim do uso do carvão para produção de eletricidade em 2021 e investimentos em energias renováveis e ainda o compromisso de empresas com a neutralidade carbónica.

Pelo contrário, neste quinquénio, a Zero destaca, em termos negativos, os projetos de expansão do aeroporto da Portela e a construção do aeroporto do Montijo, as “enormes emissões recorde associadas aos incêndios florestais em 2017”, o aumento de 3% das emissões de gases com efeito de estufa entre 2015 e 2018 e o facto de, apesar dos apoios ao transporte público, o setor dos transportes, muito por via do transporte rodoviário individual, continuar a representar cerca de um quarto do total das emissões.

Em termos mundiais, pela negativa, a Zero aponta, desde logo, o aumento das emissões de gases de efeito de estufa até 2019.

Se as emissões de dióxido de carbono podem cair sete por cento em 2020, “no entanto, as concentrações atmosféricas de gases de efeito de estufa continuam a aumentar”.

A Zero denuncia também que os atuais compromissos não só continuam “seriamente inadequados” para atingir as metas do Acordo de Paris como levam a um aumento de temperatura de pelo menos 3 ºC até o final do século.

Por junto, acentua no seu texto, “até agora, a oportunidade de medidas de recuperação para estimular a economia e, ao mesmo tempo, acelerar uma transição para baixo carbono tem estado a ser amplamente perdida”, sendo que “as mudanças nos modelos de produção e de consumo são um pré-requisito para sustentar as reduções nas emissões de gases de efeito de estufa”.

Em particular, a Zero realça que “os cidadãos mais ricos têm continuado a aumentar as suas emissões à custa dos mais pobres”.

Pela positiva, em termos mundiais, a Zero evidencia que “desde Paris, o desenvolvimento de soluções de baixo carbono progrediu mais rapidamente do que muitos imaginavam” e que “o fim do uso do carvão e o pico de procura do petróleo – se é que já não está para trás – estão agora num horizonte mais próximo”.

Por outro lado, a Zero entende que “o número crescente de países que se estão a comprometer com metas de emissões líquidas zero até meados do século é o pináculo da política climática de 2020”.

Porém, alerta, para esta tendência, “permanecer viável e confiável, é imperativo que esses compromissos sejam traduzidos urgentemente em fortes políticas e ações de longo prazo, refletidas nas contribuições determinadas no quadro do Acordo de Paris”.

Clima: Cinco anos do Acordo de Paris assinalados com cimeira da "ambição climática"

O Acordo de Paris sobre o clima, assinado há cinco anos pela quase totalidade dos países, é hoje assinalado com uma demonstração do empenho na redução das emissões de carbono, numa cimeira convocada pela ONU.

O acordo histórico para impedir o aumento do aquecimento global e as alterações climáticas que dele decorrem foi assinado há cinco anos em Paris, quando os líderes mundiais assumiram o compromisso de reduzir a emissão de gases com efeito de estuda para impedir um aumento das temperaturas globais inferior a dois graus celsius em relação à época pré-industrial, e procurando que esse aumento seja mesmo inferior a 1,5 graus.

O acordo contempla que as metas de redução de emissões sejam revistas de cinco em cinco anos, pelo que devem ser revistas até final deste ano, mas muitos especialistas têm alertado para a pouca ambição dos países em reduzir essas emissões.

No dia em que se assinalam os cinco anos do Acordo realiza-se a “cimeira da ambição climática”, convocada pela ONU, pelo Reino Unido e pela França, em parceria com o Chile e com a Itália, juntando virtualmente dezenas de líderes mundiais que deverão reafirmar o empenho na luta contra as alterações climáticas e a apresentar metas ambiciosas.

A cimeira de hoje acontece porque a Cimeira de Glasgow sobre o clima, que estava marcada para este mês,foi adiada devido à pandemia de covid-19. A Cimeira de Glasgow (chamada de COP26) está prevista para novembro do próximo ano.

O encontro de hoje inclui discursos do secretário-geral da ONU, António Guterres, e dos países organizadores.

Na sexta-feira em Bruxelas o Conselho Europeu chegou a acordo para a redução de emissões de gases com efeito de estufa na União Europeia em 55% até 2030, em relação a 1990. A anterior meta era de 40%. O Parlamento Europeu propõe uma redução de 60%.

Na cimeira de hoje não participam os Estados Unidos, que saíram do Acordo de Paris, ainda que o Presidente eleito, Joe Biden, já tenha dito que o país irá voltar ao acordo mundial sobre o clima.

Esse regresso é apontado por especialistas e políticos como uma boa notícia nos cinco anos do Acordo de Paris, que salientam também o recente anúncio da China, o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, de se tornar neutro em emissões em 2060.