O relatório foi preparado por um consórcio de 57 investigadores de 21 países e apresenta 10 tópicos sobre a ciência do clima cujo conhecimento a ciência consolidou em 2020, dizem os responsáveis, que entregam hoje o documento a Patrícia Espinosa, secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas.

Do ano de 2020 resultou, diz-se no documento, uma melhor compreensão da sensibilidade da Terra ao dióxido de carbono, que reforça a necessidade de cortes ambiciosos das emissões de GEE.

Concluem os cientistas que também as emissões provenientes do degelo do solo até aqui permanentemente congelado ('permafrost'), como a tundra siberiana por exemplo, “são suscetíveis de serem piores do que o esperado”.

Outras das conclusões indicam que as florestas tropicais podem ter atingido o pico da capacidade de absorção de carbono e que as alterações climáticas vão agravar seriamente a crise da água e que podem afetar profundamente a saúde mental das pessoas.

Por outro lado, constatam os investigadores, os governos não estão a aproveitar a oportunidade para na recuperação económica a seguir à pandemia de covid-19 para investirem numa “economia verde”, quando a covid-19 e as alterações climáticas “demonstram a necessidade de um novo contrato social”.

Os cientistas começam por salientar que os impactos das alterações climáticas podem ser tão abruptos e abrangentes nos próximos anos como a atual pandemia de covid-19.

A propósito dos alertas reunidos no relatório, uma das autoras do documento diz que essa é uma missão importante dos cientistas, a de levar a ciência aos decisores, para ajudar a acelerar as transições para a sustentabilidade.

“O agravamento dos incêndios florestais, a intensificação das tempestades, e mesmo a pandemia em curso, são todos sinais de que a nossa relação com a natureza está a deteriorar-se, com consequências mortais” diz, citada no relatório Wendy Broadgate, diretora do “Future Earth Global Hub”, uma instituição sueca.

E Detlef Stammer, professor da Universidade de Hamburgo, Alemanha, e presidente do Comité Científico Conjunto do Programa Mundial de Investigação Climática, acrescenta: “Para enfrentar as futuras alterações climáticas precisamos de conhecimento detalhado do funcionamento do sistema climático”.

Esse conhecimento permite aos investigadores dizerem, segundo o documento, que o estímulo económico centrado principalmente no crescimento e só depois na sustentabilidade pode comprometer o Acordo de Paris, ou que a eletrificação nas cidades é fundamental para transições justas de sustentabilidade. Ou mesmo que ir a tribunal para defender os direitos humanos pode ser uma ação climática essencial.

Ainda que o relatório confirme o continuo aumento dos principais impactos ambientais, notam os investigadores que também aponta oportunidades.

Este ano, dizem, será crítico para se agir se o mundo quiser alcançar os objetivos do Acordo de Paris (impedir o aquecimento do planeta acima de dois graus celsius em relação à época pré-industrial).

Até agora, pelo que já foi anunciado, os custos de investimento em 2020-2024 para cumprir o Acordo de Paris de redução de GEE estão estimados apenas em cerca de metade do valor dos pacotes de estímulo pós-pandemia de covid-19.

Contudo, diz-se no relatório, os governos não estão a aproveitar a oportunidade para uma “mudança positiva”. E os investigadores dão um exemplo: Os governos do G20 (maiores economias) estão a investir 60% mais em atividades baseadas em combustíveis fósseis do que em investimentos sustentáveis.